São Dâmaso, um dos maiores Papas
da Igreja de Deus, era espanhol. Órfão de mãe, levou-o o pai a Roma, para lá
receber uma sólida educação religiosa e científica. Os progressos que fez foram
tão notáveis, que Dâmaso foi tido como um dos homens mais santos e sábios do
seu tempo. Na qualidade de diácono da Igreja de Roma, acompanhou o Papa
Libério ao exílio. Pela morte deste Papa, foi elevado ao trono pontifício, em
atenção à sabedoria e santidade que o distinguiam, como também pelo zelo e
coragem com que defendera a Igreja contra a heresia. O governo de São
Dâmaso durou dezessete anos e dois meses, e coincidiu com épocas bem
angustiosas. Todos os escritores eclesiásticos daquele tempo lhe tecem os
maiores elogios. São Jerônimo chama-o o grande amador da castidade, o doutor
virginal da Igreja virginal. Teodoro vê nele um homem adornado de todas as
virtudes e digno de todo o louvor. Santo Ambrósio reconhece em Dâmaso um
instrumento escolhido pela Divina providência para o bem da Igreja de Cristo.
Os bispos, reunidos em Constantinopla, elogiam-no pela firmeza heróica na
defesa da santa fé, dando-lhe o título honroso de diamante invencível
da fé. Em diversas ocasiões patenteou esta firmeza evangélica. Logo
depois de sua eleição se formou uma corrente fortíssima contra a pessoa de
Dâmaso, com o fim indubitável de derrubá-lo do trono pontifício. A alma
deste movimento foi o diácono Ursino, que ambicionava para si a
dignidade papal. Dâmaso, receoso de ser causador de um cisma, declarou-se
pronto a resignar à tiara pontifícia e retirar-se à vida privada. Os
elementos bons, porém, opuseram-se a isto, e todos os esforços empregaram
até que o governador romano se resolveu a mandar para o exílio o promotor das
desordens.
Algum tempo depois, começou a luta
contra a heresia, que tinha levantado a cabeça em diversos lugares, até na
capital da cristandade. Em diversos concílios parciais e finalmente no
concílio ecumênico de Constantinopla, foram condenadas as heresias de Macedônio
e Apolinaris, e desterrados os respectivos autores.
O Pastor vigilante trabalhou
incessantemente no melhoramento da organização da Igreja. Muitas igrejas
foram construídas e as relíquias de muitos mártires, por iniciativa do Papa,
foram entregues à veneração dos fiéis.
À sua ordem foram abertas as
catacumbas, nas quais mandou desentulhar galerias, fazer escadas, por
clarabóias. Muitos túmulos de mártires receberam belíssimos epitáfios de sua
autoria executados em esmerada caligrafia. Homens importantes daquele tempo,
como Atanásio, Ambrósio e Jerônimo faziam parte do conselho particular do
Pontífice. A São Jerônimo, a Igreja deve a tradução dos livros bíblicos para a
língua latina. A confiança de que Dâmaso gozava do povo cristão era tão grande,
que os imperadores Teodósio, Graciano e Valentiniano ordenaram expressamente
aos súditos, que não aceitassem outro credo a não ser aquele que São pedro
pregara em Roma, e que era ensinado por seu sucessor Dâmaso; que haviam de
considerar errôneas e heréticas as doutrinas, por Dâmaso, como tais
censuradas. O imperador Graciano promulgou uma lei que determinava a
competência jurídica do Papa em julgar as questões que houvesse entre Bispos.
Grande interesse manifestou Dâmaso
pela digna celebração dos mistérios. É-lhe atribuída a recitação dos salmos
em dois coros e do Gloria Patri no fim de cada salmo. Introduziu também o
cântico do Aleluia nas missas dominicais.Por sua iniciativa, foi reformada
a Igreja de São Lourenço e enriquecida com belíssimas pinturas.
Dâmaso morreu na idade de oitenta
anos.
Consta que ainda em vida, com uma
pequena oração, restituiu a vista a um cego. No túmulo se lhe deram grandes
milagres. Muitos possessos de demônios, por intercessão de São Dâmaso,
ficaram livres do mau espírito, e inúmeros doentes recuperaram a saúde.
Reflexões
Como discípulo e imitador de
Jesus Cristo, Dâmaso perdoava aos inimigos. Perdoar aos inimigos e rezar por
aqueles que nos perseguem, é particularidade muito cristã. O Antigo
testamento conhecia a lei da vingança, que permitia tirar desforra. Jesus,
porém, ensinou uma lei mais perfeita, a lei da caridade, que obriga a todos
que querem ser seus discípulos. Pela lei da caridade e a observação da
mesma se distingue o mundo do reino de Nosso Senhor. O mundo não conhece a
caridade e muito menos o perdão. Jesus Cristo estabelece o humano perdão aos
nossos semelhantes como condição de obtermos o perdão divino dos nossos
pecados. Quem não perdoa, não quer ser perdoado. Quem não perdoa, esquece-se de
que nunca, ofensa alguma que sofreu de seu semelhante, poderá ser igual em
gravidade à mínima ofensa que fez a Deus, cujo perdão vem impetrar. Quem não
quer perdoar, de boa consciência não pode rezar o Pai Nosso, em que pede
perdão dos pecados , à medida que perdoa os inimigos. A este respeito,
escreve Santo Atanásio: "Se não perdoas o mal que te fizeram, nada pedes para
ti; pelo contrário, em vez de pedires perdão a Deus provocas a sua ira ao
dizer: perdoa-nos as nossas dívidas, assim como perdoamos aos nossos
devedores". O mesmo diz São Crisóstomo: "Como podes levantar a s mãos ao céu
ou mover a língua para pedir perdão? Posto que Deus te queira perdoar, não
lho permites, enquanto não mudares da tua atitude hostil contra teu irmão".
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Dâmaso era espanhol, um homem de eminência e grande
conhecimento das Escrituras. Em 381, ele convocou o Primeiro Concílio de
Constantinopla, onde extinguiu a malvada heresia de Eunômio e Macedônio. Ele
confirmou a condenação do concílio, em Rímini, condenação que já havia sido
pronunciada por Libério. Esse Concílio de Rímini foi aquele em que, usando a
expressão de São Jerônimo, Valente e Ursácio usaram de fraude para que a fé de
Niceia fosse condenada, e o globo terrestre, gemendo, viu-se ariano.
Esse Papa edificou duas basílicas, primeiro a
de São Lourenço, perto do Teatro de Pompeia, que enriqueceu com magnificência e
anexou casas e fazendas; outra na via Ardeatina, sobre as Catacumbas. Também
consagrou a Platônia, onde os corpos de São Pedro e São Paulo jazeram durante
algum tempo, e decorou-a com elegantes inscrições poéticas compostas por ele
mesmo. Escreveu a respeito da virgindade, tanto em verso quanto em prosa, e
também muitos outros poemas sobre vários assuntos.
Ele estabeleceu que falsos acusadores fossem
punidos pelas ofensas que haviam falsamente levado a processo contra seus
próximos. Estabeleceu o costume, que já existia em muitas igrejas, de cantar os
Salmos, tanto de dia quanto à noite, em coros alternados, e de ajuntar ao final
de cada Salmo as palavras "Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo". Foi
por sua ordem que São Jerônimo reviu a tradução do Novo Testamento de acordo com
o texto grego. Governou a Igreja por dezessete anos, dois meses e vinte e seis
dias. Cinco vezes, no Advento, fez ordenações, em que ordenou trinta e um
Sacerdotes, onze Diáconos e sessenta e dois bispos para diversas sés. Enfim
adormeceu no Senhor, no reino de Teodósio, o Mais Velho, com quase oitenta anos,
e cheio de retidão, verdade e juízo. Foi enterrado ao lado de sua mãe e irmã, na
igreja que ele mesmo fundara na Via Ardeatina. Suas relíquias foram, depois,
levadas para a Basílica de São Lourenço, que por isso é chamada "San Lorenzo in
Damaso".
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