Comemoração litúrgica: 11 de
abril. Também nesta data: São Leão I, Papa; Santa Gema Galgani e
Santo Isaac
Polonês de
origem, nasceu Estanislau em Sczepenow, de pais piedosos e ricos, que
consideravam o primogênito como um presente do Céu, visto que o matrimônio
tinha ficado sem filhos, durante trinta anos. Estanislau recebeu uma educação
primorosa, graça esta que retribuiu com um procedimento exemplaríssimo,
dando, criança ainda, provas indubitáveis de futura santidade. Amor à oração,
delicadeza de consciência e uma grande compaixão pelos pobres, eram-lhe os
traços característicos da alma juvenil.
Para
completar os estudos, os pais mandaram-no para Paris. Passados uns anos, na
volta para Polônia, não encontrou mais os pais em vida. Tomou a resolução
de realizar um plano, havia muito por ele acariciado: de entrar para o
convento. Com este intuito, fez distribuição de seus bens entre os pobres. O
Arcebispo de Cracóvia Lamberto, porém, conhecendo o grande talento de Estanislau
e julgando-lhe utilíssima a cooperação na diocese, ofereceu-se o título de
cônego. Neste encargo trabalhou até à morte do santo bispo, quando foi eleito
sucessor do mesmo.
Nesta nova
posição tinha a preocupação única de cumprir bem o dever, dirigir bem a
arquidiocese, ganhar almas para o céu e santificar a sua própria alma. A
caridade quase excessiva que tinha para com os pobres e necessitados, a
dedicação sem limites ao clero e fiéis, a vida austera e modelar, fizeram com
que em toda a arquidiocese fosse conhecido como o "Santo Bispo".
Rei da
Polônia era Boleslau II, monarca tirânico e devasso, odiado pela nação. Não
havia, porém, quem tivesse tido a coragem de abrir-lhe os olhos. Estanislau
teve esta franqueza apostólica. Em audiência, que obteve de Boleslau, com
todo o respeito e muita clareza, chamou a atenção do rei para os escândalos
que o mesmo dava, e pediu-lhe que por amor de Deus, salvasse a sua alma.
Boleslau prometeu emendar-se; continuou, porém, com a vida escandalosa de
antes. Quando a desfaçatez lhe chegou ao ponto de raptar a mulher de um
fidalgo e desonrá-la, Estanislau, qual outro São João Batista, disse-lhe: "Não
te é lícito ter a mulher de teu próximo". Estas palavras fizeram amadurecer
no coração do rei o plano de livrar-se do censor importuno. Um fidalgo tinha
com consentimento do rei, vendido ao Arcebispo um terreno e recebido a
importância da venda. Três anos o Arcebispo tinha estado de posse tranqüila
da propriedade, legitimamente adquirida. Boleslau instigou os herdeiros do
falecido fidalgo, antigo proprietário do terreno em questão, a processar o
Arcebispo por ter-se apossado indevidamente daquela propriedade e
prometeu-lhes apoio incondicional naquela demanda. Os herdeiros fizeram
intimação ao Arcebispo para que restituísse a propriedade ou fizesse o
pagamento da mesma. Estanislau, por sua vez, protestou contra a injusta
acusação e citou em seu favor testemunhas. Estas, porém, nada depuseram,
porque o rei lhes tinha proibido testemunhar. "Pois bem, disse o Arcebispo
ao rei e aos seus conselheiros - se minhas testemunhas não querem ou não
podem falar, daqui a três dias hei de apresentar-lhes uma, a quem deverão
dar crédito, o vendedor mesmo". O rei riu-se desta ameaça, porque o antigo
proprietário tinha morrido havia dois anos; no entanto, aceitou o desafio
do Arcebispo. Estanislau passou três dias em oração e jejum. No terceiro dia,
logo após a Missa, revestido de vestes episcopais, se dirigiu à sepultura do
falecido proprietário, de nome Pedro, mandou que se retirasse a terra e
exclamou em alta voz: "Pedro, em nome da SS. Trindade, ordeno-te que te
levantes e dês testemunho da verdade!" E eis que, na presença de muito povo,
o morto se levanta e acompanha o santo bispo, até a presença do rei do
conselho. Estanislau apresentou-o e disse: "Aqui está a testemunha, que prometi
trazer à vossa presença. Ela vos dirá a verdade. "Pedro levantou a voz e
disse bem alto e claro: "Sim, senhores. Vendi ao Arcebispo meu terreno
livremente e recebi a paga à vista. Meus herdeiros não tem razão". Dito
isto, Pedro voltou à sepultura, para continuar o sono eterno. O Arcebispo, bem
contra a vontade do rei, foi absolvido e teve sossego por algum tempo.
Boleslau,
por seu turno, continuou a vida desregrada até que os grandes do país,
cansados de ver o triste exemplo do rei, se dirigiram ao Arcebispo, com o
pedido de apresentar ao monarca seus protestos e, em seu nome, exigir-lhe emenda
de vida. Estanislau prometeu-lhes procurar o rei e para isto se preparou
pela oração e jejum, durante alguns dias. Assim se apresentou novamente ao rei,
falou-lhe do grande perigo que corria, de perder a alma, da condenação eterna,
certa e inevitável, caso não se quisesse converter a Deus. Vendo, porém, que
tudo era debalde, e o rei recebia as admoestações com mofa e escárnio,
ameaçou-o com a excomunhão. De fato, excomungou-o, porque o proceder de
Boleslau, em vez de melhorar, se tornava dia a dia mais escandaloso.
O tirano
resolveu então sem mais outros preâmbulos a morte do Arcebispo. Destacou para
este fim um grupo de homens que deviam assassinar o Arcebispo na hora da Santa
Missa. Efetivamente os algozes entraram na capela arquiepiscopal, com a intenção
de cumprir a ordem régia. Tomados, porém, de um pânico inexplicável, fugiram
do santo lugar e declararam ao rei ser-lhes impossível levar efeito a ordem por
ele dada.
Boleslau
mandou outros homens e assim por três vezes seguidas, sem que conseguissem
dar cumprimento à tarefa. Que acontece? O rei, possesso de ódio, ele mesmo se
dirige à capela do Arcebispo, sequioso do sangue de sua vítima. Estanislau
estava a celebrar o santo sacrifício da Missa, quando Boleslau entrou e com um
golpe terrível de espada, feriu a cabeça do santo Arcebispo, o qual morreu
instantaneamente. O tirano, não satisfeito com a obra, ordenou que o corpo da
vítima fosse arrastado para fora e cortado em pedaços, a fim de que servisse
de pasto aos corvos. A Divina Providência, porém, dispôs contra a vontade do
carrasco. Apareceram quatro águias, que se puseram de sentinela e guarda do
corpo despedaçado do mártir, até que alguns homens tivessem a coragem de
juntar as relíquias para dar-lhes honesta sepultura. Deu-se ainda outro
milagre. No momento em que os membros do corpo mutilado foram conjuntados,
uniram-se perfeitamente, de modo que apareceu o corpo intacto do santo mártir.
Este foi sepultado na Igreja de São Miguel, em Cracóvia, onde ficou dez anos.
Agora descansa na Catedral de Cracóvia. O martírio de Santo Estanislau deu-se
no ano de 1079.
REFLEXÕES:
Santo Estanislau procurou salvar o
rei da perdição eterna. Baldados foram-lhe os esforços, apesar de ter
muitas vezes apontado para a condenação eterna, que infalivelmente seria a
sorte do impenitente. Boleslau é o tipo do pecador que despreza os avisos de
Deus e se entrega ao vício, sem temor e relutância. O ímpio chega ao ponto de
não mais ligar importância ao pecado. "O coração endurece-lhe (Jó 41,
15-15) como a bigorna do ferreiro". "Será oprimido de males sem fim". (Esd 3,
27) diz o Espírito Santo. Quem estiver em pecado, trate de sair deste
triste e perigoso estado. Peça a Deus que lhe dê a reta compreensão e a
graça de livrar-se das cadeias, que o levam para o inferno.
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