Padroeiro dos missionários
Imortal tornou-se
o nome deste franciscano, missionário da Itália, que por espaço de 44 anos
pregou 326 missões em 84 dioceses, apresentando-se assim como instrumento
escolhido da Providência Divina, para a salvação de muitas almas. O resultado
estupendo que lhe coroava os trabalhos de missionário, tem sua explicação na
grande santidade deste humilde filho do Patriarca de Assis. São Leonardo de
Porto Maurício é uma figura extraordinária, entre os grandes pregadores de
penitência e, dos missionários que Deus tem dado à Igreja, é ele um dos
maiores. O grande orador sacro Barberini, homem de muita experiência e
virtude, disse no relatório ao Papa Clemente XII, em referência à pregação de
Leonardo, que nunca ouvira um pregador mais eloqüente e zeloso, orador algum
que, como ele, tanto o impressionasse. Bento XIV assistiu a diversas missões
dirigidas por Leonardo, para ouvir-lhe as práticas. Nos lugares onde pregava, um
dos cuidados do missionário era implantar na alma do povo, a devoção ao
Sagrado Coração de Jesus e da Sagrada Paixão de Nosso Senhor, a adoração
perpétua do Santíssimo Sacramento e o culto de Nossa Senhora. Um dos mais
ardentes desejos seus era ver proclamado o dogma da Imaculada
Conceição.
Grande pregador,
era também modelo perfeito das virtudes, que procurava implantar nos corações
dos ouvintes. Possuidor do espírito de São Francisco, era Leonardo, como seu
pai espiritual, amigo apaixonado da pobreza. Andando sempre descalço, não usava
hábito que não tivesse já servido a outros Irmãos da Ordem e bastante gasto.
Presentes, que em quantidade lhe eram oferecidos, por ocasião das missões,
Leonardo os rejeitava, preferindo viver pobre, como o Divino Mestre viveu e
morreu.
Hemoptises
freqüentes e fortes obrigaram-no a interromper pelo espaço de cinco anos a sua
atividade de missionário pregador. Restabelecido, em 1707, subiu novamente ao
púlpito e durante 44 anos não mais preciso foi tomar maior descanso. Nestes
tempos desenvolveu uma atividade maravilhosa na Itália, principalmente na
Toscana. O amor de Deus tinha deitado raízes fortíssimas na alma do santo
missionário, que costumava dizer: " Mesmo se tivesse toda a certeza de
parar no inferno, de todo coração amaria a meu Deus". Ou: "Feliz me
consideraria, se com meu sangue pudesse evitar um só pecado mortal, que tanto
desgosto causa a Deus e tão gravemente o ofende".
Para ter diante
de si a lembrança da Sagrada Paixão de Nosso Senhor, fazia todos os dias
o exercício da via sacra, e levava sobre o peito uma cruz guarnecida de cinco
pontas de ferro. Nas sextas-feiras, mastigava vermuto ou outras ervas amargas,
para acompanhar o divino Mestre, a quem foram dados fel e vinagre a
beber.
Devotíssimo de
Maria Santíssima, saudava a divina Mãe, todas as vezes que ouvia bater horas.
Os sábados e as vésperas de festas marianas eram-lhe dias de jejum. Missão
não terminava, sem recomendar aos ouvintes a devoção a Nossa Senhora como o
melhor antídoto contra o pecado mortal.
Considerando o
Santíssimo Sacramento como o sol do cristianismo, a alma da fé, o ponto central
da religião cristã, Leonardo era adorador devotíssimo deste grande mistério, e
com o maior recolhimento celebrava a santa Missa, preparando-se para a
celebração pela confissão diária.
Amigo de Deus e
trabalhador dedicadíssimo pelos interesses de Jesus, grande amor dedicava
também ao próximo. Esta caridade teve sua máxima expressão e exemplificação
no confessionário. Os pecadores encontravam nele um bom pai e caridoso médico.
Admirável era-lhe a dedicação no confessionário, durante as missões. Foi
observado que permanecia no tribunal da penitência durante 30 horas, sem
tomar alimento e sem se permitir um descanso. Todos os sacrifícios, todas as
fadigas as oferecia pelas almas do purgatório. Admirável expressão de São
Lourenço é a seguinte: "De boa vontade ficaria na entrada do inferno,
suportando os maiores tormentos, se com meu corpo pudesse obstruir a passagem e
impossibilitar que lá alguém entrasse".
Verdadeiro santo,
era Leonardo amigo da Penitência. O tempo lhe era precioso demais, para
perdê-lo com conversações inúteis. Só o serviço de Deus e o interesse pelas
almas podiam-no levar a sair da cela. Durante as missões o soalho lhe servia
de leito, e o corpo, macerado pelo jejum, e pelas mortificações, trazia sinais
inequívocos de cruéis flagelações. Quando estudante, era modelo para os
condiscípulos, e os mestres tinham-lhe grande estima, comparando-o com São Luís
Gonzaga. Nunca abandonou os princípios austeros, adquiridos na mocidade,
defensores e conservadores da santa pureza. " Quando um religioso , precisa
falar com uma pessoa de outro sexo, deve ter o cuidado de quem tem que se
haver com um empesteado. Não podendo evitar o contato com tais doentes, leve
consigo cheiros fortes para evitar o contágio. O religioso, enquanto precisa
falar com uma mulher, deve usar o incenso dos bons pensamentos, para não por
em perigo a própria alma", dizia.
Era visível a
graça e proteção divina, que o acompanhavam nas missões. Como fossem
numerosíssimas as conversões, não faltavam exemplos a mostrar como Deus
castigava os desprezadores dos salutares avisos divinos. Em todas as
emergências conservava São Leonardo a conformidade e uma profunda humildade.
"Tudo para Deus, nada para mim", era sua divisa.
Leonardo morreu
no ano de 1751 em Roma, no Convento de São Boaventura. Pio VI, que o
conhecera em vida, conferiu-lhe o título de Bem-Aventurado. Pio IX
inseriu-lhe o nome no catálogo dos Santos da Igreja e Pio XI deu-o por
padroeiro aos missionários.
Reflexões
Um dos maiores missionários que a Igreja possuiu, São
Leonardo de Porto Maurício, senhor de uma eloqüência arrebatadora e que sacudia
impiedosamente as consciências dos ouvintes, não se cansava de aconselhar aos
cristãos que observassem os Mandamentos da lei de Deus. Da observância da Lei
de Deus depende a vida. Muitos se iludem pensando que, levando ao pescoço uma
medalha ou um escapulário, tendo o nome inscrito em uma irmandade, a salvação é
a coisa mais garantida, embora se permitam as maiores liberdades no desprezo
da Lei de Deus. Que engano, que ilusão! A lei de Deus não conhece e não
admite exceção. E como Deus ordena que a Igreja seja ouvida e obedecida, as
leis da Igreja nos obrigam da mesma forma que as do Decálogo. Grava bem
fundo em teu coração esta verdade e lembra-te da palavra de Nosso Senhor, que
diz: "Se queres entrar na vida, observa os mandamentos"(Mt 19), como da
afirmação do salmista: "Malditos aqueles que se desviam dos vossos
mandamentos". (S. 118)
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