O ano de
1830 ficou marcado pela manifestação da Imaculada Virgem Maria que, do Céu veio
trazer-nos o seu retrato da Medalha bendita, à qual por causa dos seus prodígios
e milagres, o povo cristão deu o título de Milagrosa.
Não é a
Medalha Milagrosa como muitas que se tem inventado para representar os títulos e
invocações de Maria Santíssima, medalhas dignas de respeito e veneração pelo que
representam, mas que não tem origem mais do que o gosto do artista que as
fabricou, ou o fervor do Santo que as divulgou.
Não
assim a Medalha Milagrosa; ela é um rico presente que Maria Imaculada quis
oferecer ao mundo no século XIX, como penhor dos seus carinhos e bênçãos
maternais, como instrumento de milagres e como meio, de preparação para a
definição dogmática de 1854.
Foi na
comunidade das Filhas da Caridade, fundada por São Vicente de Paulo, que a
Santíssima Virgem escolheu a confidente dos seus desígnios, para recompensar de
certo a devoção que o Santo sempre teve à Imaculada Conceição de Nossa Senhora,
e que deixou por herança aos seus filhos e filhas espirituais.
Chamava-se ela Catarina
Labouré. Nasceu a 2 de maio de 1806, na Côte d'Or, em França, e aos 20 anos
de idade tomou o hábito das Filhas da Caridade. Noviça ainda,muito humilde,
inocente e unida com Deus, era ternamente devota à Santíssima Virgem, a quem
escolhera por Mãe desde que em pequenina ficara órfã, ardia em contínuos desejos
de a ver e instava com o seu Anjo da Guarda para que lhe alcançasse este favor.
Não foi baldada a sua esperança; entre outras, foi bem célebre a aparição de 18
para 19 de julho de 1830, em que Nossa Senhora a chamou à Capela, e com a irmã
se dignou conversar por algumas horas, anunciando-lhe o que em breve
aconteceria, enchendo-a de carinhos e consolações.
Mas a
mais importante das aparições foi a do dia 27 de novembro de 1830, sábado antes
do primeiro domingo do Advento. Neste dia, estando a venerável irmã na oração da
tarde, nessa Capela da Comunidade, rua du Bac, Paris, a Rainha do Céu se lhe
mostrou, primeiro, junto do arco cruzeiro, do lado da epístola, onde hoje está o
altar " Virgo Potens", e depois por detrás do Sacrário, no altar-mor. "A Virgem
Santíssima, diz a irmã, estava de pé sobre um globo, vestida de branco, com o
feitio que se diz à Virgem, isto é, subido e com mangas justas; véu branco a
cobrir-lhe a cabeça, manto azul prateado que lhe descia até aos pés; o cabelo em
tranças, seguro por uma fita debruada de pequena renda, sobre ele pousava, o
rosto bem descoberto de uma formosura indescritível. As mãos, elevadas até à
cinta, sustentavam outro globo, figura do mundo, rematado por uma cruzinha de
ouro; a Senhora toda rodeada de tal esplendor que era impossível fixá-la; o
rosto iluminou-se-lhe de radiante claridade no momento em que com os olhos
levantados para o céu, oferecia ao Senhor esse globo".
"De
repente os dedos cobriram-se de anéis e pedrarias preciosas de extraordinária
beleza, de onde se desprendiam raios luminosos para todos os lados, envolvendo a
Senhora em tal esplendor que já se lhe não via a túnica nem os pés. As pedras
preciosas eram maiores umas, menores outras e proporcionais eram também os raios
luminosos".
"O que
então experimentei e aprendi naquele momento é impossível explicar".
"Como
estivesse ocupada em contemplá-la, a Virgem Santíssima baixou para mim os olhos,
e uma voz interIor me disse no íntimo do coração: ' Este globo que vês
representa o mundo inteiro e em especial a França e cada pessoa em particular'.
Aqui não sei exprimir o que descobri de beleza e brilho nos raios tão
resplandecentes. A Santíssima Virgem acrescentou: 'Eis o símbolo das graças
que derramo sobre as pessoas que mas pedem'."
"
Desapareceu então o globo que tinha nas mãos; e como se estas não pudessem com o
peso das graças, os braços se abaixaram e se abriram na atitude graciosa
reproduzida na Medalha".
"Formou-se então
em torno da Virgem, um quadro um pouco oval onde em letras de ouro se
liam estas palavras: 'Ó Maria, concebida sem pecado, rogai por nós que
recorremos a vós'. Fez-se ouvir então uma voz que me dizia: 'Manda cunhar
uma Medalha por este modelo; as pessoas que a trouxerem indulgenciada, receberão
grandes graças, mormente se a trouxerem ao pescoço; hão de ser abundantes as
graças para as pessoas que a trouxerem com confiança' ."
No mesmo
instante o quadro pareceu voltar-se e a irmã viu no reverso a letra "M" encimada
por uma cruz, tendo um traço na base e por baixo do monograma de Maria os dois
corações de Jesus e de Maria, o primeiro cercado por uma coroa de espinhos, o
segundo atravessado por uma espada; e segundo tradução oral comunicada pela
vidente, uma coroa de doze estrelas a cercar o monograma de Maria e os corações.
Também a mesma irmã disse depois, que a Santíssima Virgem Maria calcava aos pés
uma serpente de cor esverdeada com pinturas amarelas.
Passaram-se dois anos sem que os superiores eclesiásticos decidissem o que havia
de Fazer-se; até que, depois do inquérito canônico, se cunhou a Medalha por
ordem e com aprovação do Arcebispo de Paris, Monsenhor Quélen. Para logo,
começou a espalhar-se com muita rapidez a devoção pelo mundo inteiro,
acompanhada sempre de prodígios e milagres extraordinários, reanimando a fé
quase extinta em muitos corações, produzindo notável restauração dos bons
costumes e da virtude, sarando os corpos e convertendo as almas. Entre outros
prodígios é célebre a conversão do judeu Afonso Ratisbonne, acontecida depois da
visão que ele teve na Igreja de Santo Andrea delle Frate, em Roma, em que a
Santíssima Virgem lhe apareceu como se representa na Medalha Milagrosa.
O
primeiro a aprovar e abençoar a Medalha foi o Papa Gregório XVI, confiando-se à
proteção dela e conservando-a junto de seu crucifixo. Pio IX,, seu sucessor, o
Pontíficie da Imaculada, gostava de a dar como prenda particular da sua
benevolência pontífica. Não admira que, com tão alta proteção e à vista de
tantos prodígios, se propagasse rapidamente. Só no espaço de quatro anos, de
1832 a 1836, a firma Vechette, incumbida de a cunhar, produziu dois milhões
delas em ouro e prata e dezoito milhões em cobre.
Graças a
esta difusão prodigiosa, foi-se radicando mais e melhor no povo cristão a crença
na Imaculada Conceição de Maria e a devoção para com tão excelsa Senhora; assim
se preparou essa apoteose sublime da definição dogmática de 1854, que a Virgem
Santíssima veio como que confirmar e agradecer em Lourdes em 1858, coroando
assim a aparição de 1830.
Em
outras aparições subseqüentes a Santíssima Virgem falou a Catarina de Labouré da
fundação de uma Associação das Filhas de Maria que depois o Papa Pio IX aprovou
a 20 de junho de 1847, enriquecendo-a com as indulgências da Prima-primária.
Espalhou-se pelo mundo inteiro e conta hoje com mais de 150.000 associadas. Leão
XIII a 23 de junho de 1894 instituiu a Festa da Medalha Milagrosa; a 2 de Março
de 1897 encarregou o Cardeal Richard, Arcebispo de Paris, de coroar em seu nome
a estátua da Imaculada Virgem Milagrosa que está no altar-mor da Capela da
Aparição, o que se fez a 26 de julho do mesmo ano. Pio X não esqueceu a Medalha
Milagrosa no ano jubilar; a 6 de junho de 1904 concedeu 100 dias de indulgência
de cada vez que se diga a invocação: "Ó Maria concebida sem pecado, etc", a
todos quantos tenham recebido canonicamente a Santa Medalha; a 8 de julho de
1909 instituiu a Associação da Medalha Milagrosa com todas as indulgências e
privilégios do Escapulário azul. Bento XV e Pio XI encheram a Medalha e a
Associação de novas graças e favores.
Reflexões:
A Virgem toda radiante de luz calcando a serpente lembra-nos a
sua Conceição Imaculada, portanto a queda original e o Salvador prometido.
No reverso vemos a cruz, símbolo da Redenção. Maria associada a
essa obra divina, mediadora junto de Jesus; a cruz e os dois corações falam-nos
de caridade, penitência, mortificação e amor; as doze estrelas lembram o zelo do
apostolado e a recompensa que o espera. Não há inscrição deste lado, porque a
cruz e os corações dizem bastante.
Quem não há de procurar trazer, amar, estudar esta Santa
Medalha para receber dela todos os frutos de bênção e salvação que Maria
Imaculada prometeu e deseja comunicar?
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