Nossa Senhora do Rosário de Pompéia
No ano de 79 ocorreu a famosa erupção do Vulcão Vesúvio, que sepultou a cidade pagã de Pompéia (Sul da Itália). Ali a aristocracia romana gostava de passar o tempo com entretenimentos e foi surpreendida pela súbita destruição.
No início do Século IX instalaram-se nas proximidades famílias de campesinos que erigiram uma humilde capela. Em 1872 chegou o advogado Bartolo Longo (beatificado em 26 de outubro de 1980), que trabalhava para a Condessa de Fusco, dona dessas terras. Logo descobriu que, depois da morte do sacerdote, já não haviam missas na capela e poucos seguiam firmes na fé.
Uma noite, o advogado Bartolo Longo viu em sonhos a um amigo morto anos atrás, que lhe disse: “Salva a esta gente Bartolo! Propaga o Rosário. Estimula-os para que o rezem. Maria prometeu a salvação para aqueles que fizerem”. Assim, Longo trouxe de Nápoles muitos Rosários para distribuir e encorajou também a vários vizinhos que o ajudassem a reformar a capela. A população começou a rezar o Rosário, cada vez em maior número.
Em 1878, Longo obteve de um convento de Nápoles um quadro de Nossa Senhora entregando o Santo Rosário a São Domingos e Santa Rosa de Lima. Estava deteriorado mas um pintor o restaurou. Este mudou a figura de Santa Rosa pela de Santa Catarina de Siena. Posta sobre o altar do Templo, ainda que inacabada, a Virgem Santíssima começou a operar milagres.
Em 08 de maio de 1887, o cardeal Mônaco de Valleta, colocou na venerada imagem um diadema de brilhantes benta pelo Papa Leão XII e em 08 de maio de 1891, deu-se a solene consagração do novo Santuário de Pompéia, que existe atualmente.
Padroeira das Missões -
Se Deus dá à Igreja Santos e Santas, não menos verdade é, que uma das primeiras
condições de santidade é, fora da graça de Deus, a santidade dos progenitores. É
justamente esta circunstância particular que se observa em relação à Santa
Teresinha do Menino Jesus. Eram santos os pais.
Luís José Estanislau Martin, aos vinte anos, teve ardente desejo de tomar o
hábito de São Bernardo, mas, reconhecendo que os desígnios Da Divina Providência
eram outros, desistiu do plano. Zélia Guerin, jovem de muita piedade e caráter
enérgico e franco, aspirava a ser admitida entre as irmãs de São Vicente de
Paulo, e para este fim solicitou entrada na Congregação das mesmas, em
Alençon. As superioras reconheceram não
ser esta a vontade de Deus e, sem hesitação, disseram-lhe sua opinião a este
respeito. Zélia, resignando-se com esta decisão, repetia , muitas vezes no
íntimo da alma esta prece:
“Meu Jesus, já que não sou digna de ser vossa esposa, como minha irmã querida
(**), abraçarei o estado de matrimônio, para cumprir a
vossa vontade santíssima. Peço-vos, porém, encarecidamente, sejais servido
concerder-me muitos filhos, e que todos
vos sejam consagrados”.
Deus, em sua paternal bondade, reservava para esta alma predileta o virtuoso
jovem já mencionado e, graças a circunstâncias visivelmente providenciais,
realizou-se o enlace matrimonial de ambos, aos 12 de julho de 1858, na Igreja de
Nossa Senhora de Alençon.
Houve Deus por bem aceitar com agrado a santa disposição do piedoso casal e
deu-lhe nove filhos, que no santo batismo tiveram os seguintes nomes: Maria
Luísa, Maria Paulina, Maria Leônia, Maria Helena (falecida aos cinco anos e meio
de idade), José Maria, Maria José, João Batista, Maria Celina, Maria Melania
Tereza (falecida três meses depois do nascimento) e Maria Francisca Tereza.
Depois do nascimento das quatro filhas mais velhas era ardente o desejo do
piedoso casal de ter um filho, que futuramente servisse a Deus como missionário,
e nesta aspiração dirigiram-se confiadamente a São José. As orações foram
ouvidas e o coração dos pais encheu-se de doce júbilo, quando lhes nasceu o
primeiro filho, a quem deram o nome de José Maria. Mas os pensamentos do Senhor
não são os nossos, nem os seus caminhos são os nossos. Assim aconteceu que ao
cabo de cinco meses apenas, o pequeno José trocasse este deserto pelos
tabernáculos do Senhor.
Empenhados em alcançar do céu para sua família um sacerdote, um missionário, os
pais instaram novamente com ardentes súplicas, e grande lhes foi a alegria
quando um outro pequenino José veio tomar o lugar do irmãozinho falecido. Nove
meses se passaram e também esta florzinha se viu transplantada para os canteiros
celestes.
Desistiram então de pedir aos céu outro missionário. Contudo realizou-se-lhes
plenamente o desejo na pessoa da última filha, de todas a mais abençoada e
privilegiada, alma providencial, a quem Deus deu uma missão grandiosa,
verdadeiramente divina.
Nos pais os filhos viam o exemplo de cristãos santos. Amigos da oração, todas as
manhãs se reuniam aos pés do altar e à mesa eucarística. Rigorosamente
observavam a lei do jejum e da abstinência, eram escrupulosos na santificação do
domingo, faziam com assiduidade as práticas de piedade, como a leitura
espiritual e a oração em comum. Não faltavam, certamente, provocações, mas a
única resposta que davam a Deus, era sempre uma total resignação a tudo que a
alta Providência quisesse determinar.
Embora houvesse certo bem-estar na família Martin, ninguém se excedia em luxos
desnecessários, e em tudo reinava grande simplicidade.
Em família de sentimentos tão cristãos e generosos, a virtude da caridade achava
terreno mais amplo de atividade.
Das economias o piedoso casal reservava anualmente avultosa quantia para a Obra
da Propagação da Fé. A casa estava-lhes sempre aberta para os pobres, e grandes
eram as esmolas que lá recebiam. Na distribuição da caridade o Sr. Martin não
conhecia o respeito humano, e muitos são os casos em que com as próprias mãos
servia a pobres desamparados. Não é, pois, caso de estranhar que o nobre homem
em suas empresas se visse acompanhado da benção de Deus.
Foi em Alençon, na rua São Brás, que nasceu a celeste florzinha, Santa Teresa do
Menino Jesus, geralmente conhecida pelo nome que o povo cristão lhe deu – Santa
Teresinha.
Às 11 horas e meia da noite de 2 de janeiro Teresa abria os olhos para este
mundo.
No dia do nascimento da “rainhazinha”, (assim o extremoso pai chamava sua
filhinha) veio um pobre bater à porta da ditosa família e entregar um papel com
estas loas, que mais pareciam uma profecia:
Sorri, cresce
depressinha,
Tudo te chama à
ventura:
Amor, desvelos
ternura...
Sorri à fúlgida
Aurora,
Botão que nasceste
agora,
Rosa mais tarde serás
!
Aos 4 de janeiro a graciosa menina foi levada ao batismo, onde recebeu o nome de
Maria Francisca Teresa, servindo-lhe de madrinha a irmã mais velha, Maria
Luísa.
Teresa contava apenas quatro anos e meio, quando a morte lhe arrebatou a querida
mãe. Foi então que o Sr. Martin resolveu mudar a residência para Lisieux, onde
morava o cunhado Guérin, cuja esposa velaria pela educação das órfãsinhas.
Pelo belíssimo exemplo que Teresinha tinha constantemente diante dos olhos, bem
cedo se acostumou à prática das virtudes, e decerto é a expressão da verdade o
que afirma a autobiografia: que desde a idade de 3 anos nunca recusou coisa
alguma a Deus.
Dotada de inteligência superior, treinada pelas experiências colhidas no caminho
da provação e da dor, a menina, em bem poucos anos, chegou a demonstrar uma
madureza admirável em julgar as coisas divinas e humanas. A esta firmeza de
caráter, ao conhecimento profundo das coisas divinas, ao desejo de pertencer a
Deus deve-se atribuir o fato de , com 15 anos apenas, se ter resolvido a entrar
na Ordem do Carmelo, cuja regra é uma das mais austeras.
Em sua “História de uma alma”, escrita por ordem da superiora, Madre Inês de
Jesus, a nossa santa, com uma simplicidade encantadora, narra os fatos
principais que se ligam à sua vida junto aos pais, no seio da família, a entrada
na Ordem, descreve as dificuldades de ordem material e espiritual, consolações
que teve e graças extraordinárias que recebeu do divino Esposo.
Dos fatos narrados na “ História de uma alma” , tenham aqui lugar só os mais
notáveis.
Teresinha, bem pequenina ainda, fez a primeira confissão e saiu do
confessionário muito satisfeita, achando que nunca até então tinha experimentado
uma alegria igual.
Certo dia teve uma visão um tanto profética, que muito a impressionou. Estando o
pai em viagem, que por longo tempo o afastava da família, Terezinha teve a
impressão de ver diante de si um homem alquebrado, de cabeça encanecida, e
embuçada em véu espesso. Tudo daquele homem, o traje, o andar, a figura, tudo
lhe fazia crer que fosse o pai querido. Tomada de estranho terror, chamou por
ele com voz trêmula: “Papai, ó papai !” Mas o personagem assim interpelado não
dava sinais de ter ouvido estas palavras e continuou a andar, afastando-se pelas
alamedas do jardim. Teresinha nunca mais perdeu de memória esta misteriosa
visão, presságios de futuros padecimentos, de que o pai seria vítima. O sr.
Martin pelo fim da vida sofreu diversos ataques de paralisia, que lhe
comprometeram a luz do espírito, de tal modo que durante três anos, foi preciso
ser entregue aos cuidado de pessoas estranhas.
Terezinha tinha oito anos e meio, quando se matriculou como externa no colégio
das religiosas beneditinas, em Lisieux.
Embora muito mais nova que as companheiras de classe, tirava as melhores notas
em composição, e era muito querida entre as religiosas, razões estas que não
poucas humilhações lhe importavam, da parte de alunas menos consideradas e menos
inteligentes. Foi neste espaço de tempo que na mente de Teresinha surgiu o
primeiro pressentimento de ser por Deus chamada a abraçar o estado religioso no
Carmelo. Esse pressentimento tomou feições de desejo em 1885, quando a prima e
amiga Maria Guérin entrou para o Carmelo de Lisieux.
No retiro que a irmã Celina fazia, em preparação para a primeira Comunhão,
Teresa a acompanhou e experimentou as mais suaves impressões. O dia da primeira
Comunhão considera-o um dos mais belos da vida.
Comparando-se com as irmãs, Teresa se reconhece menos afeita aos brinquedos
próprios da idade infantil, porém mais sensível e choraminga até o excesso. Na
família reinava sempre a mais perfeita harmonia e entre as irmãs e as primas
havia o maior entendimento, a mais franca cordialidade.
Tereza era sempre fraquinha e dores de cabeça atrozes atormentavam-na por dias,
semanas e meses, acompanhadas às vezes, por estranhos temores. Por vezes caía em
delírio, sem entretanto perder o uso da razão. Vinham desmaios, que lhe tolhiam
o mais leve movimento. O leito parecia-lhe rodeado de demônios
e de precipícios horríveis. Os pregos cravados nas paredes do quarto
tinham-lhe aos olhos a forma de dedos enormes pretos e carbonizados, cuja vista
lhe provocava gritos de horror. Em tão tristes lances se via como sempre,
rodeada do mais afetuoso carinho do pai e das irmãs e parentes.
Desta doença, que resistia a todos os recursos da ciência médica, a santa menina
se viu curada por Maria Santíssima. Celina, vendo baldados todos os esforços
para conservar a vida da querida irmã, invocou, com todo o fervor de mãe que
suplica, a Maria santíssima, representada numa estátua que a família Martin tinha em muita veneração. A
estátua, a mesma que se vivificava aos olhos da mãe de Teresa, animou-se de
súbito também na presença desta: “ A Virgem Santíssima adiantou-se para mim e
sorriu...” Celina, ao vê-la fitar os olhos na estátua disse de si para si: “
Teresa está curada” . De fato estava. No momento em que a irmã dizia isto
consigo, o rosto de Teresa tornara-se diáfano e estava transfigurado. A
fisionomia denunciava-lhe algo de sobrenatural. As pessoas presentes a esta cena
sentiram-se tomadas de pasmo e admiração. Não havia dúvida que Teresa em êxtase
vira Maria Santíssima.
Restabelecida do terrível mal que a acometera e quase a levara às portas da
eternidade, o pai proporcionou-lhe o grande prazer de um passeio
agradabilíssimo, ocasião em que começou a conhecer o mundo. Via-se então muito
festejada; admirada por todos, sem entretanto compreender o motivo de tantas
atenções. Embora não fosse insensível às carícias de pessoas amigas, bem cedo
chegou à conclusão de que tudo é vaidade, exceto amar e servir a Deus.
Pessoas da intimidade, por exemplo as mestras, notaram em Teresa grande
inclinação à oração mental. A menina meditava de fato, sem contudo dar conta de
tal e chamava a isto pensar.
Fez a primeira Comunhão nas melhores disposições. Três meses empregou na
preparação. Ela mesma confessa ser-lhe impossível contar as impressões que teve,
no momento de receber a sagrada Hóstia. “ Meu encontro com Jesus naquele dia não
podia ser apenas um simples olhar, mas era sim uma fusão. Já não éramos dois.
Teresa desaparecera, como a gota d’água que se abisma no seio do oceano. Restava
só Jesus e era o Senhor, o Rei ! “
Pouco tempo depois da primeira Comunhão recebeu o sacramento da Confirmação, em
preparação do qual fez novo retiro.
O
ideal de ser religiosa Carmelita desenhava-se cada vez mais nítido, na alma da
piedosa donzela. Obter o consentimento do pai e das irmãs e pedir admissão na
Ordem não era tão fácil como a princípio se lhe afigurava. Mas o tio era de
parecer contrário. Não só declarou contrário à idéia, mais ainda acrescentou que
se havia de opor à execução de tal plano, caso não houvesse a intervenção de um
milagre.
Poucos meses depois, porém, deixou de lado a sua resistência e deu seu
consentimento.
“
Vai em paz, querida filhinha, - disse-lhe, abraçando-a paternalmente – és uma
florzinha privilegiada, que o Senhor quer para si e a isto não me hei de
opor”.
Levantou-se, entretanto, outra dificuldade, e era de natureza muito séria, mesmo
insuportável: a recusa formal do
Superior do Carmelo de receber na Ordem uma donzela de quinze anos. Idêntica foi
a decisão do Bispo de Bayeux, se bem que este muito comovido pela insistência
com que Teresa apresentou o pedido, secundado pelas afirmações do pai, não lhe
cortasse o fio da esperança, prometendo-lhe falar com o Superior a respeito e
responder-lhe então.
Em 7 de novembro de 1887 organizou-se em Paris uma peregrinação a Roma, na qual
tomaram parte o sr. Martin com suas filhas Teresa e Celina. Estava também entre
os peregrinos o Padre Revérony, Vigário geral de Bayeux, de quem Teresa diz que
a observava diligentemente, em toda a viagem.
Chegados à Roma, só em 20 de novembro tiveram a ventura de serem recebidos em
audiência no Vaticano. A Santa mesma conta-nos, com toda a minudência, o
histórico dessa audiência.
“
Na manhã de domingo ( 20 de novembro) fomos ao Vaticano. Às 8 horas assistimos à
Missa do Sumo Pontífice. Acabada a Missa de ação de graças, que se seguiu à do
Santo Padre, principiou a audiência. Leão XIII estava assentado na poltrona, em
trono elevado, vestido de batina branca e murça da mesma cor. Ladeavam-no
diversos Prelados e as mais altas dignidades eclesiásticas. Conforme as
prescrições do cerimonial, cada um dos peregrinos ia por sua vez ajoelhar-se,
beijar primeiro o pé e logo a mão do augusto Pontífice e receber-lhe a benção;
em seguida dois guardas nobres, tocando-o de leve, com o dedo, significavam-lhe
que se levantasse para passar à outra sala ceder o lugar ao seguinte.
Ninguém tugia, mas eu estava resolvidíssima a falar, quando o Revmo. Pe.
Revérony, que se pusera à direita de Sua Santidade, nos fez saber publicamente
que proibia terminantemente que se falasse ao Santo Padre. Voltei-me para Celina, a interrogá-la com o
olhar; entretanto dava-me o coração
pancadas de fazê-lo estalar.
- Fala ! disse-me ela.
Momentos depois estava eu ajoelhada diante do Papa. Beijei-lhe o pé e
apresentou-me a mão. Levantando então para ele os olhos cheios de água,
dirigir-lhe esta súplica:
- Santíssimo Padre, desejo
pedir-vos uma graça importante ! – Inclinou logo a fronte até junto do meu
rosto; como se os seus olhos pretos e profundos quisessem penetrar até o âmago
de minha alma.
- Santíssimo Padre – insisti –
em memória do vosso jubileu, autorizai-me a entrar no Carmelo aos quinze anos
!
O
Revmo. Vigário Geral de Bayeux, estupefato e descontente, atalhou
imediatamente:
- Santíssimo Padre, é uma
criança que deseja abraçar a vida do Carmelo, mas os Superiores estão atualmente
examinando o caso.
- Pois bem, minha filha –
disse então Sua Santidade – esteja pelo que decidirem os superiores.
De
mãos postas, e encostadas aos seus joelhos, fiz esta última tentativa:
- Ó Santíssimo Padre, é só
dignar-vos de responder-me sim, para concordarem todos !
Olhou-me fixamente e proferiu estas palavras, martelando cada sílaba, em tom de
voz penetrante:
- Pois não... vamos...
entrará, se assim aprouver Deus.
Ia
eu insistir ainda, quando se aproximaram dois guardas nobres, acenando que me
levantasse. Ao verem que não bastava este aviso, travaram-me dos braços e o
Revmo. Padre Revérony veio também os ajudar a erguer-me, visto como ainda me
deixava ficar queda, de mãos postas e apoiadas nos joelhos do Papa.
No
momento em que era assim removida, o bom
do Santo Padre pôs suavemente a mão sobre os meus lábios e ergueu-os logo
depois para abençoar e pôr largo espaço de tempo esteve me acompanhando com o
olhar” .
- - - - - - - - - - - - -
Tornados a Lisieux, a primeira visita foi ao Carmelo. Um novo requerimento que
Teresa fez ao Prelado diocesano, não teve pronto despacho, como desejava e
esperava. Passou-se o Natal do ano de 1887, sem obter resposta alguma. O dia 1º
de janeiro de 1888 tirou-a afinal da incerteza. Foi nesse dia que a Madre Maria
de Gonzaga lhe comunicou ter recebido autorização do Bispo para recebe-la
imediatamente, como postulante no Carmelo. Na carta a Superiora acrescentava que
só depois da quaresma a entrada se poderia efetuar.
O
dia 9 de abril de 1888 trouxe-lhe afinal a ventura da entrada no Carmelo.
Desde o começo da vida religiosa no claustro, pode Teresa experimentar as
provações com que Nosso Senhor costuma mimosear seus prediletos. Uma aridez
espiritual parecia ser-lhe o pão quotidiano, e a Madre Superiora introduziu-a
logo nas práticas costumeiras do Carmelo, tratando-a sempre com extraordinária
severidade, não lhe perdoando a mínima falta que cometesse. Destarte Teresa bem
cedo se habituou a considerar na Superiora não a criatura, mas a pessoa de Nosso
Senhor, ficando assim preservada de afeições humanas no claustro, que sempre que
as houver, são uma verdadeira calamidade.
Extraordinária e mui significativa é a declaração que Teresa fez, no exame do
canônico que lhe precedeu a profissão, dizendo: “ Vim para salvar as almas e
especialmente para rezar pelos sacerdotes” . Fiel a este propósito ofereceu-se a
Jesus como vítima, convencida que só pelo sofrimento poderia fazer algum bem às
almas. Durante cinco anos realizou esta prática, sem que pessoa alguma
soubesse.
Em 10 de janeiro de 1889 recebeu o hábito, cerimônia a que presidiu o Bispo
Diocesano, e que se revestiu de grande solenidade, estando presentes as irmãs de
Teresa. Acompanhada pelo pai, entrou solenemente na capela.
Para o sr. Martin foi um triunfo e também sua última festa no mundo, pois um mês
depois foi acometido de grave doença que o levou à sepultura seis anos
depois.
O
tempo do noviciado passou célebre, entre as práticas de piedade, de virtude e
mortificação, sem que houvesse ocorrido fato de maior relevância.
Decorrido um ano, passou pela decepção de não poder professar, Declaro-lhe a
Superiora que, devido à oposição formal do Revmo. Padre Superior, havia de
esperar mais oito meses. A própria Santa confessa que a princípio he custou aceitar tamanho
sacrifício, mas, ajudada pela graça divina, conformou-se inteiramente com a
decisão de quem fazia às vezes de Jesus.
Passado o tempo da provação, ficou marcado o dia 8 de setembro de 1890 para a
profissão religiosa.
Horas antes da profissão religiosa, recebeu de Roma a benção do Santo Padre,
fato que muito consolou, tendo durante o
retiro espiritual experimentado a mais completa aridez. Permitiu Deus que sua
serva, no dia que precedia a profissão, fosse horrivelmente perturbada por
tentações a respeito da vocação. “ A minha vocação – assim escreve –
afigurou-se-me de improviso, simples sonho e quimera; o demônio – pois era ele
mesmo – inspirava-me a convicção de que a vida do Carmelo não me convinha por
forma alguma e que enganava os Superiores, metendo-me por um caminho ou
instituto de vida para o qual não fora chamada. Tão densas se amontoaram estas
trevas, que cheguei a persuadir-me duma coisa única: não tenho vocação
religiosa, devia voltar ao mundo”. Foram angústias indescritíveis e para
dissipá-las Teresa foi ter-se com a mestra e manifestou-lhe a tentação. Foi o
bastante para lhe voltar a calma e o sossego.
Se procurarmos saber que meios Santa Teresa empregou para chegar a tão alto grau
de perfeição, que a igreja e com esta todos os fiéis lhe admiram, descobriremos
três: - a oração, a vida unida a Nosso Senhor, a mortificação e o amor a
Deus.
O
espírito de sacrifício era-lhe universal. Tudo quanto havia de mais penoso e
menos agradável, por isso mesmo o procurava com sofreguidão. Tudo o que Deus lhe
pedia, dava-lho sem reserva. O que mais a martirizou fisicamente, como confessa,
foi a privação do fogo durante o inverno. “ O frio tem sido para mim um tormento
de morte”.
Na Sexta-feira Santa (3 de abril de
1896) apareceram os primeiros anúncios da “chegada do Esposo”. Freqüentes eram
as hemoptises que lhe sobrevinham, mas
a Santa sabia habilmente as disfarçar,
tanto que só em maio de 1897 as irmãs souberam do verdadeiro estado de sua
saúde.
Em julho do mesmo ano foi preciso transferi-la definitivamente para a
enfermaria. Os últimos meses foram de sofrimentos incalculáveis, causados por um
desânimo que o demônio lhe preparava, atormentando-a com tentações contra o amor
de Deus. “ Tens certeza – dizia-lhe a voz maldita – de ser realmente amada por
Deus?”
Quando em 30 de julho recebeu a Extrema-Unção, disse jubilosa, às irmãs: “ A
porta da minha escura prisão está entreaberta; estou radiante, principalmente
depois que o nosso Padre Superior me assegurou que minha alma se assemelha hoje
à de uma criancinha recém-batizada”.
Desde o dia 16 de agosto até 30 de setembro as freqüentes hemoptises não lhe
permitiam receber a santa Comunhão, sacrifício este que de todos lhe era em
extremo sensível.
São dos últimos dias de sua existência
estas memoráveis palavras: “Nunca dei a Deus senão amor e com amor também me há
de recompensar. Depois da minha morte farei cair uma chuva de rosas. Sinto que
está chegando a hora de desempenhar a minha missão a de fazer amar a Nosso
Senhor como o amo...de dar a conhecer a minha veredazinha às almas. Quero passar
o meu céu empenhada em fazer bem na terra”.
Muitas coisas edificantes disse ainda Santa Teresa às Irmãs, nos últimos dias de
doença.
Entretanto, a dor aumentava de dia para dia. A fraqueza chegou a tais extremos,
que a doente sem auxílio não podia fazer o mais leve movimento. Causava-lhe
aflição horrível falar perto de si. A febre martirazava-a de tal maneira, que só com grande esforço
podia pronunciar uma palavra. Mas no meio de todo este sofrimento, um leve
sorriso lhe aflorava aos lábios.
Chegou, afinal, o dia 30 de setembro, o dia de sua santa morte. Estreitando o
crucifixo nas mãos, parecia absorta em profunda meditação. Quando o sino do
Mosteiro tocou as Ave-Marias vespertinas, fixou na Virgem Imaculada um olhar
inexprimível. Cobria-lhe o rosto um suor copioso: tremia. Às sete horas e poucos
minutos perguntou à Madre Priora:
- Minha Madre, não será talvez
a agonia? Não estou nas últimas?
- Pois não, minha filha, é a
agonia; mas Jesus quer prolongá-la talvez algumas horas.
E
ela, muito resignada:
- Pois bem... vamos...
vamos... oh ! não quisera que se me abreviassem os sofrimentos...
E
olhando para o crucifixo:
- Oh !... Amo-o !... Meus Deus, eu vos... amo !
Foram estas suas últimas palavras; pronunciando-as deixou-se cair sobre o leito,
numa atitude semelhante à de algumas virgens mártires, que se dispunham a
receber o último golpe. De repente, se ergueu, como se fosse para atender a uma
voz misteriosa, abriu os olhos, e fitou-os com uma expressão de jubilo
indizível, um pouco acima da imagem de Nossa Senhora. Isso durou mais ou menos a
recitação de um “credo” e sua alma voou para os páramos celestes.
Logo depois da morte de Teresinha, começaram a dar-se na comunidade fatos
extraordinários. Verificou-se a profecia da Santa, que disse: Depois da minha
morte farei cair uma chuva de rosas.
O
mundo católico encheu-se de admiração pela santidade da humilde carmelita de
Lisieux, e Deus glorificou-a, fazendo-a benfeitora da humanidade, como provam os
milagres, que apareceram às centenas.
Treze anos depois da morte, procedeu-se-lhe à exumação do corpo e nesta ocasião
foi encontrada intacta e verde a palma que as religiosas lhe tinham posto na
mão, logo após a morte.
Beatificada em 1923, S.S. o Papa Pio XI, no ano do jubileu de 1925, lhe deu a
honra dos altares. As relíquias, depositadas na capela do Mosteiro do Carmelo em
Lisieux, repousam numa riquíssima urna de prata dourada, oferecida pelos
católicos do Brasil.
R E F L E X Õ E
S
O segredo da santidade de Teresa do Menino
Jesus está na perfeita harmonia das virtudes que lhe adornam a alma e a tornaram
tão agradável aos olhos de Deus. São: a humildade e a simplicidade, abnegação de
si própria, levada até o heroísmo, o espírito de sacrifício, um amor sem limites
a Nosso Senhor e uma confiança sem reserva em Deus. Como não há nada de
extraordinário na vida desta santa carmelita, seu exemplo é perfeitamente
imitável por todos que seriamente querem a salvação de sua alma. Basta
imitar-lhe as virtudes, invocar-lhe a poderosa intercessão. O Espírito Santo,
que rege a Igreja de Deus sobre a terra, reservou esta mimosa flor do céu para
os nossos tempos, tão pobres de amor e tão saturados de miséria. Graças lhe
rendemos por ter dado aos filhos um exemplo tão perfeito de virtudes e
santidade, que mostra à humildade o “pequeno caminho” da santificação.
Benfeitora que é dos pobres mortais, que se lhe dirigem nas necessidades
materiais e espirituais; padroeira dos missionários que trabalham nas linhas
mais avançadas da milícia de Cristo, na terra dos pagãos – a Igreja Católica,
reverente, curva-se diante desta filha privilegiada, que tanto já fez e mais
ainda fará, para implantar o reino de Cristo nos corações dos homens.
Santa Teresinha do Menino Jesus é Doutora da
Igreja, proclamada pelo Papa João Paulo II em 19 de outubro de 1987.
Oração
Senhor, que dissestes: “ Se não vos fizerdes como
meninos, não entrareis no reino dos céus” – fazei-nos seguir a Santa Virgem
Teresa em humildade e simplicidade do coração, para que consigamos alcançar os
prêmios da vida eterna.
(** <=
Volta ao texto) Irmã mais
velha de Zélia, que entrou no Mosteiro da Visitação de Mans, com o nome de Soror
Maria Dorotéia e que em 1877 morreu santamente, com a idade de 48
anos.
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