A festa que a Igreja hoje celebra, tem os
nomes de Nossa Senhora das Candeias e Apresentação de Jesus
Cristo no templo. É hoje o dia da bênção
das velas (candeias) e em muitas igrejas, antes da celebração da santa Missa, se
organiza solene procissão, em que são
levadas as velas acesas, símbolo de Jesus Cristo
que, apresentado a Deus no templo de
Jerusalém, pelo santo velho Simeão foi saudado, como a luz que veio para iluminar os povos.
Tem também o
nome de Purificação de Nossa Senhora,
por ser o dia em que Maria Santíssima, em obediência à lei mosaica, se apresentou no templo do Senhor, quarenta
dias depois do nascimento do divino Filho.
Para melhor
compreensão deste ato de Maria Santíssima, sejam lembradas
neste lugar duas leis que Deus deu, no antigo testamento. A mulher que tinha dado à luz uma criança do
sexo masculino, ficava privada de entrar no templo por quarenta dias depois do parto; se a criança era menina, o tempo da
purificação era de oitenta dias. Passado
este tempo, devia apresentar-se no templo, oferecer um cordeirinho, duas
rolas ou dois pombinhos, entregar a oferta ao sacerdote, para que este rezasse
sobre ela.
A Segunda lei
impunha aos pais da tribo de Levi a
obrigação de dedicar o filho
primogênito ao serviço de Deus. Crianças
que pertenciam a outra tribo, que não a de Levi, pagavam
resgate.
É admirável a
retidão e humildade de Maria Santíssima
em sujeitar-se a uma lei humilhante,
como foi a da purificação. A maternidade da
Virgem, em tudo diferente das outras mulheres, isentava-a mui legalmente
das obrigações de uma lei, como foi a da purificação. Davi enche-se de vergonha, quando se lembra
da sua origem: “Em pecados minha mãe
concebeu-me”. A Maria o Anjo tinha
dito: “O Espírito virá sobre ti , e a
virtude do Altíssimo te cobrirá com sua
sombra”. São José recebeu do céu a comunicação consoladora: “O que dela (de
Maria) nascerá, é do Espírito Santo”.
Virgem antes, durante e
depois do parto, seu lugar não era entre as outras filhas hebréias que no
templo se apresentavam para fazer penitência e
procurar perdão do pecado. Maria, porém, prefere obedecer à lei e parecer com a pecha
comum a todas. Além disto, sendo de
origem nobre, descendente direta de Davi, oferece o sacrifício dos pobres, isto
é, dois pombinhos. Que humildade!
Nesta sua
humildade é acompanhada pelo Filho. Ele é Filho do Altíssimo,
autor e Senhor das leis, não admite para si motivos que das mesmas o isentem. Ele que quis ser nosso semelhante em tudo, exceto o pecado,
sujeita-se à Lei da circuncisão, triste lembrança da grande queda dos primeiros
pais no paraíso, de que resultou o pecado original. Por ocasião da apresentação
de Maria Santíssima no templo, se deu um
fato que merece toda a atenção nossa. Vivia em Jerusalém um santo homem chamado
Simeão, provecto em idade, que com muito
fervor anelava pela vinda do Messias. De
Deus tinha recebido a promessa
de não sair desta vida sem ter
visto, com os próprios olhos, o Salvador do mundo. Guiado por inspiração divina, viera ao templo
no momento em que os pais de Jesus
entraram, em cumprimento das prescrições legais. Como os
magos conheceram o Salvador, este se fez conhecido a Simeão, o qual o tomou nos braços e bendisse a Deus,
dizendo: “Agora, Senhor, deixa partir o
vosso servo em paz, conforme vossa palavra. Pois meus olhos viram a vossa salvação que preparastes diante dos olhos das nações: Luz para aclarar os gentios, e glória de
Israel, vosso povo!”
José e Maria
ficaram admirados do que dizia do Menino. Simeão abençoou-os e disse a Maria, sua Mãe: “Este Menino veio ao mundo para ruína e
ressurreição de muitos em Israel e para
ser um sinal de contradição. Vós mesma
tereis a alma varada por uma
aguda espada e assim serão patenteados
os pensamentos ocultos no coração de muitos”.
– Havia também uma profetisa, de nome Ana, filha de Fanuel, da tribo de
Aser. Vivera 7 anos casada, enviuvara e
já estava com 84 anos. Não deixava o templo e servia a Deus dia e noite, jejuando e
rezando. Tendo vindo ao templo na mesma ocasião, deixou-se derramar em louvores
ao Senhor e falava do Menino a
todos que esperavam a Redenção de
Israel. Cumpridas todas as prescrições da lei, José e Maria voltaram para
casa.
A Igreja Católica
reserva uma bênção especial às parturientes, que logo que seu estado o permitia,
se apresentavam a Deus, como fruto de suas
entranhas. É provável que este uso se tenha introduzido na Igreja em
memória e veneração à Mãe de Deus que,
obediente à Lei do seu povo, fez sua apresentação no templo.
A Deus deve a
mulher louvor e gratidão, depois de um parto bem sucedido. De Deus vem todo bem
para a mãe e para o filho. É justo, pois, que a mãe se apresente na Igreja para pedir a bênção
divina. A mãe cristã sabe que sem
assistência e auxílio de Deus, não
pode educar os filhos na virtude e no
temor de Deus. Reconhecendo esta insuficiência, faz a Deus oferecimento do
filho, prometendo ao Senhor ver nele uma propriedade divina, penhor de seu amor,
e fazer tudo que estiver ao seu alcance para educá-lo para o céu. Oxalá todas as
mães se lembrem deste dever e não
eduquem os filhos para o serviço do
mundo, de Satanás e da carne!
REFLEXÕES
Maria Santíssima, a Mãe de Deus,
embora isenta da Lei do templo, faz empenho em cumpri-la perfeitamente. Sê sempre obediente à lei de Deus e da
igreja, pois nenhum título podes alegar que te dispense tua obrigação.
A lei da purificação obriga às
mães hebréias a apresentar-se no templo,
para livrar-se do pecado que lhes ineria.
Maria, a Virgem Mãe puríssima humilha-se, sujeitando-se a uma determinação levítica, que não a
afetava.
Imita o exemplo de Maria
Santíssima, velando sempre pela pureza de
tua consciência. Sabes que nada de impuro no céu poderá entrar, e ignoras
por completo o último dia que Deus te concederá, para purificar tua alma.
Maria Santíssima, a bendita
entre as mulheres, não se exalta, embora Deus a
tinha exaltado. Como as mulheres,
ela aparece no templo, não permitindo que seja tratada diferentemente.
Não te exaltes sobre o teu próximo. Não desprezes a
ninguém, e não te faças melhor do
que na realidade és.
Maria faz a Deus a oferta do que lhe é mais caro – seu divino
Filho – . Dá a Deus tudo o que tens: Teu
corpo e tua alma, tua vida toda. Na Santa Missa, imitando a Virgem Santa, oferece-lhe o mesmo
que ela ofereceu no templo: Jesus Cristo, o Filho de Deus.
Maria Santíssima deposita o
Filho nos braços do velho Simeão, o
qual o
recebe com grande júbilo da alma, dizendo-se pronto para morrer em paz, depois de Ter visto o cumprimento das
promessas do Antigo Testamento. Na santa Comunhão recebes o mesmo Jesus, que
Maria Santíssima pôs nos braços de
Simeão. Dá-lo-ia ela à tua alma com o mesmo prazer, com que o entregou ao
venerável ancião? Para comungar bem,
para que a comunhão seja um prazer para Deus e de utilidade para a tua alma, é
preciso que estejas livre do pecado mortal, e te desapegues de todo o mal.
Coisa terrível é a comunhão sacrílega. Comungar sacrilegamente é uma injúria maior feita a Nosso Senhor do que
atirar a sagrada Hóstia ao monturo ou
aos cães. De São Boaventura são as seguintes palavras
sobre semelhante crime: “Tu, pecador impuro, invejoso e avarento, és mais imundo, mais repugnante e
desprezível que um cão”.
Sendo teu pecado rubro como o escarlate, numeroso como
os grãos de areia do mar, procura as
águas purificadoras da penitência, e não te atrevas nunca a receber indignamente
a Santa Comunhão. “ Quem come este pão e
bebe o cálice do Senhor indignamente,
será réu do corpo e sangue do
Senhor, come e bebe a sua condenação” (I
Cor. 11,27)
Renovemos nosso amor e devoção
a Nossa Senhora e imploremos que nos
derrame suas infinitas graças, a fim de abraçarmos a cruz de cada dia com
muita resignação e alegria, e que cumpramos sempre os preceitos da Santa Igreja
de Cristo. Amém!
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