Introdução:
Segundo a
doutrina da Igreja Católica, o Purgatório não é um nível intermédio entre o
Inferno e o Paraíso, mas um estado de purificação onde as almas dos que morreram
em estado de graça (isto é, não estão manchados pelo pecado mortal e, portanto,
já estão destinadas ao Paraíso), ainda precisam se purificar para ver a face de
Deus no Céu. Isto se justifica pela existência nas almas de manchas originadas
pelos pecados veniais (ou leves) e pelas penas temporais devidas ao pecado, pois
que 'nada de impuro pode entrar no céu' (Ap.21,27).
A existência do Purgatório se
baseia no testemunho da Sagrada Escritura e da Tradição. Vários Concílios o
definiram como dogma; Santos Padres e Doutores da Igreja o atestam a uma voz. Há
uma prisão da qual não se sairá senão quando tiver pago o último centavo. (Mat.
18, 23-35).
O menor
sofrimento no Purgatório, como dizem os santos, ultrapassa todos os possíveis
sofrimentos na terra. Está em nosso poder reduzi-los e ajudar as almas a
alcançar a felicidade pela qual anseiam. Por isso o amor ao próximo deve ser o
estímulo para lhes levar ajuda.
Santa Faustina,
no seu diário, registrou muitas passagens referentes ao Purgatório. Eis uma
delas:
“Vi o Anjo da
Guarda que me mandou acompanhá-lo. Imediatamente encontrei-me num lugar
enevoado, cheio de fogo, e, dentro deste, uma multidão de almas sofredoras.
Essas almas rezavam com muito fervor, mas sem resultado para si mesmas; apenas
nós podemos ajudá-las. As chamas que as queimavam não me tocavam. O meu Anjo da
Guarda não se afastava de mim nem por um momento. E perguntei a essas almas qual
era o seu maior sofrimento. Responderam-me, unânimes, que o maior sofrimento
delas era a saudade de Deus. Vi Nossa Senhora que visitava as almas no
Purgatório. As almas chamam a Maria “Estrela do Mar.” Ela lhes traz alívio.
Queria conversar mais com elas, mas o meu Anjo da Guarda fez-me sinal para sair.
Saímos pela porta dessa prisão de sofrimento. Ouvi então uma voz interior que me
dizia: A Minha misericórdia não deseja isto, mas a justiça o exige. A
partir desse momento, me encontro mais unida às almas sofredoras”
(D.20).
Em vista de
tudo o que foi acima exposto, se compreenderá a importância da fundação levada a
cabo pela Beata Maria da Providência.
Eugênia Maria Josefina Smet nasceu no dia 25 de março de 1825, na cidade de Lille, França. Era a terceira de seis filhos de uma família abastada de origem flamenga. Estudou por dez anos junto às Irmãs do Sagrado Coração de Lille. Concluídos os estudos, desejava ingressar naquele instituto como religiosa, mas retornou à sua casa.
Embora tivesse inclinação para a vida religiosa,
permaneceu em família e dedicou-se ao apostolado leigo. Comunicou ao seu
confessor que havia feito o voto privado de castidade e depois começou a
trabalhar nas obras de caridade.
Tornou-se membro da obra pela propagação da fé,
fundada em Lion no ano de 1822 por Paulina Jaricot, ela também uma leiga, obra
esta que vinha obtendo uma ampla difusão e influência; os sócios ajudavam as
missões com a oração diária e com uma esmola semanal. Pequenos gestos somados
produzem grandes resultados.
Nessas obras ninguém da paróquia tinha tanta dedicação
quanto Eugênia. Distribuía diariamente alimentos aos carentes e aos enfermos.
Sua participação ativa e objetiva aumentava cada vez mais os donativos para as
obras missionárias, deixando os padres admirados com o seu senso de organização
e carisma. "É necessário ajudar bem a Providência", dizia ela, justificando os
crescentes donativos e pacotes de alimentos que conseguia.
Em novembro de 1853, aos 28 anos, decidiu promover uma
associação de fieis empenhados em rezar pelas almas do Purgatório. Logo
conseguiu adesões, mas as dificuldades que encontrou levaram-na a fundar, com o
mesmo objetivo, uma congregação de religiosas.
Durante três anos pediu conselhos a muitos, inclusive
ao próprio papa Beato Pio IX e ao Santo Cura d’Ars, que deram a ela todo apoio,
e, finalmente, nos primeiros dias de 1856, ela está em Paris. Era a Paris
triunfal de Napoleão III, da vitória da Crimeia, dos grandes congressos e
projetos.
Com a orientação espiritual de um padre jesuíta e com
mais cinco religiosas, iniciou a Congregação das Auxiliadoras das Almas do
Purgatório, com a finalidade de rezar pelos defuntos.
Mas, Maria da Providência (nome que adotou na
Congregação) conheceu o duríssimo “purgatório” que muitos passavam ainda em vida
e por isso estabeleceu que as Irmãs Auxiliadoras deveriam interceder em duas
frentes: pelas almas, com suas orações; pelos vivos carentes, alimentação,
alfabetização e tratamento quando enfermos.
Assim, sempre
confiante na Providência, seguiu avante serena e decidida, promovendo uma sólida
ligação entre o terreno e o celeste: toda alegria doada neste mundo é convertida
para os outros em esperança de maior beatitude no mundo invisível.
A regra e a espiritualidade de Santo Inácio foram
adotadas em 1859, consolidando o Instituto, cuja expansão é lenta porque a
fundadora não tem pressa: com sua praticidade flamenga ela quer primeiro
“robustecer as raízes”. Uma casa foi aberta em Nantes em 1865 e dois anos depois
nascia a casa missionária de Xangai, China.
No final do século XX as Auxiliadoras eram cerca de
1500 em sessenta casas espalhadas pelo mundo.
Nos últimos anos a fundadora dirigiu o Instituto em
meio a sofrimentos físicos e a tragédia da guerra perdida contra a Prússia. Ela
se extinguiu sob os tiros dos canhões inimigos. O sacerdote que a assistia, Pe.
Pierre Olivaint, morreria nos massacres da Comuna de Paris alguns meses depois.
A Fundadora faleceu no dia 7 de fevereiro de 1871 consumida por um câncer. Seu
rosto crispado pelas dores voltou à serenidade após sua morte.
Pio XII a proclamou beata em 1957, com sua celebração litúrgica no dia 7 de
fevereiro.
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