28 de janeiro. Também nesta data
- Santos: Pedro
Nolasco, Tomás de Aquino e
Leônidas
Muito
venerado na sua terra natal, no Portugal, como também no norte do Brasil, São
Gonçalo de Amarante nasceu em fins do século XII em Tagilde, freguesia de São
Salvador, arcebispo de Braga. Desde a mais tenra idade dava sinais
inequívocos de ser um eleito do Senhor para uma vida extraordinariamente santa.
Apenas batizada, a criancinha fixou o seu olhar sobre a imagem de Jesus
Crucificado, mas de uma maneira, que chamou atenção de todos que presentes se
achavam. Em toda a sua infância as sacras imagens de Nossa Senhora e dos Santos
exerciam uma grande atração sobre ele, e freqüentemente era observado, que o
pequeno Gonçalo se privava do alimento, para visitar estes objetos da sua
veneração.
Os
piedosos pais cuidadosamente trataram de dispensar a seu filho uma primorosa
educação. O menino, revelando talento e inclinação para as letras, começou os
estudos sob a direção de um piedoso sacerdote. Mais tarde, já moço, sob as
vistas do Arcebispo de Braga, se entregou ao estudo da teologia, e do mesmo
Prelado recebeu as ordens sacerdotais. Seu primeiro campo de ação sacerdotal
veio a ser S. Paio de Riba de Vizela, paróquia que foi confiada aos seus
cuidados. Humilde e zeloso, rapidamente foi conhecido como modelo de sacerdote,
parco e rigoroso para consigo próprio, liberal e cheio de caridade para com os
pobres e necessitados.
Muitíssimo
devoto à Sagrada Paixão e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, surgiu-lhe na alma
vivíssimo desejo de visitar os santos lugares da Palestina e os Santuários da
cidade de Roma. Para que os seus paroquianos durante a sua
ausência não viessem a sofrer espiritualmente por falta de assistência
religiosa, preparou e encaminhou ao sacerdócio um sobrinho seu , ao qual, com
muitas recomendações confiou a administração da paróquia, pelo tempo que se
acharia em viagem de peregrinação. O sobrinho, da sua parte, prometeu
sob juramento cumprir fielmente com os deveres de cura d’almas. Partiu o
nosso Santo consolado, confiante na palavra do seu substituto. Visitou Roma e
Jerusalém, demorando-se cerca de quatorze anos nesta jornada de penitência e
amor a Nosso Senhor.
De volta à
sua terra e à paróquia, teve o grande desgosto de encontrar na pessoa de seu
sobrinho, um sacerdote esquecido dos seus deveres, homem vivendo em luxo,
desprezando os pobres e necessitados, dando mau emprego às esmolas que
recebia.
Como era
seu dever, Gonçalo o censurou severamente; e lembrou-o das solenes promessas
feitas ao assumir a administração da paróquia, havia quatorze anos atrás. O
sobrinho, muito em vez de aceitar a mais que justa incriminação, longe de se
humilhar, enfureceu-se contra seu santo tio: chegou a cobri-lo de insultos e
levou a sua fúria a ponto de fisicamente o maltratar. O santo homem, agradecendo
a Deus por tantas injúrias recebidas, sem levantar queixas ao Arcebispo,
resolveu abraçar a vida solitária, de ermitão. Retirou-se para Amarante, lugar
ermo, onde construiu para si um pobre oratório, não deixando, entretanto, de
exercer as funções sacerdotais entre a população da redondeza.
Alguns
dias depois, tendo passado quarenta dias em completo jejum, a pão e água, de
Nossa Senhora recebeu o aviso, ser a vontade de Deus, ele tomar o hábito de São
Domingos. – Dirigiu-se ao convento dominicano de Guimarães, pediu
admissão e foi aceito. Passado o tempo de noviciado, emitiu os santos votos.
Junto com outro companheiro foi destacado para fazer pregação no oratório que
levantara em Amarante. Passava ali o rio Tâmega, cuja travessia punha em perigo
a vida de muita gente. Compadecido da triste situação de tantos viajantes,
Gonçalo determinou fazer uma ponte naquele lugar e querendo dar-lhe princípio,
lhe apareceu um anjo que indicou dois montes, entre os quais a construção se
devia fazer. Pôs mãos à obra, confiando no auxílio também dos moradores daquela
região. Estes não se negaram, mas muito se admiraram de ver o virtuoso frade, ao
lado dos operários se entregar aos rudes trabalhos. Pedras de grande volume, tão
pesadas, que muitos juntos não conseguiam mover, ele as levava,
sozinho dando assim prova de uma assistência que lhe vinha de cima. Dois fatos
extraordinários, por todos qualificados milagres, marcaram a intervenção do
Santo naquela obra gigantesca que foi a construção da ponte. Quando lhe faltava
mantimento para os operários, se punha em oração à borda do rio, pedindo a Deus
socorro, e fazendo sobre a água o sinal da cruz, apareciam em grande chusma
peixes de todo o tamanho, e facilmente se deixavam pegar.
E certa
ocasião faltaram vinho e água, deficiência esta que seriamente vinha a
comprometer a continuação das obras. O servo de Deus nesta sua aflição subiu ao
monte situado junto do oratório, prostrou-se por terra e pediu a
Deus o socorresse naquela necessidade. Acabada a oração, com o bordão tocou o
rochedo, invocou o nome de Jesus e imediatamente saiu vinho e abundância. Uma
pedrinha que punha no orifício da fonte vinhateira, fazia às vezes de uma
torneira, a abrir e fechar. Uma segunda pancada deu na parte contrária do
penedo, invocando outra vez o nome de Jesus, e saiu água tão clara, mais clara
que a do rio.
O milagre
dos peixes se repetiu muitas vezes. As obras da ponte foram levadas ao fim. A
fonte do vinho secou, não porém a da água; que está aberta até ao presente, e,
bebendo dela, muitos enfermos recebem a saúde.
Outro fato
que os biógrafos de São Gonçalo relatam, e que muito impressionou os que o
presenciaram, foi, de com uma sentença condenatória ter mudado pães alvos em
massas pretas, e estas, com aspersão de água benta, feito retomar sua forma
primitiva de pães, milagre este com que em grande sermão público fez emudecer a
linguagem blasfemadora de mofador da divina justiça.
São
Gonçalo morreu aos 10 de janeiro, de ano incerto, presumindo-se que fosse em
1259, no seu humilde leito de palha de eremitério, confortado pelo seu
companheiro de hábito e em meio de visões celestes.
Com muitos milagres Deus
glorificou o túmulo do seu fiel servo, sendo ele até hoje muito venerado pelo
povo católico. No lugar onde foi sepultado, mais tarde se fez erguer um mosteiro
dominicano. O Papa Júlio III em 16 de setembro de 1561 aprovou o culto do
bem-aventurado para todo o Portugal. Os Papas Urbano VIII (em 1629), Clemente X
(1672) confirmaram a aprovação para toda a Ordem de São Domingos. Clemente XI
marcou-lhe a festa para 28 de janeiro.
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