O PURGATÓRIO
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Todos os Finados
O mês de novembro
é dedicado às Almas do Purgatório. A doutrina da Igreja Católica sobre o
Purgatório compreende três pontos: 1º O
Purgatório existe; 2º Nele as almas serão purificadas; 3º Os fiéis da Igreja
militante, podem, pelas orações e obras meritórias, aliviar as penas das almas
do Purgatório.
1º. O purgatório existe deveras - Deus
revelou esta verdade no Antigo Testamento. “ É um pensamento santo e salutar
orar pelos mortos, para que sejam livres dos seus pecados”. (2 Macab.
12, 46). Destas palavras devemos
deduzir que já no Antigo Testamento se acreditava num lugar expiatório, em que
as almas dos defuntos eram detidas, até que fossem absolvidas dos pecados.
Jesus Cristo fala
de pecados que “não serão perdoados nem aqui, nem no outro mundo”. (Mt. 12,
13). Logo, para certos pecados, há possibilidade de serem perdoados ainda
no outro mundo. O lugar onde estes pecados serão expiados, é o Purgatório.
A Igreja ensina,
com toda a precisão, a existência do Purgatório. Assim, escreve São Gregório
Magno: “Sei que alguns devem fazer penitência ainda depois desta vida, nas
chamas do Purgatório”. – “Uma coisa é
esperar o perdão – diz São Cipriano – e outra entrar na eterna glória; uma coisa é ser metido no cárcere e dele não
sair, enquanto não for pago o último ceitil, e
outra coisa é receber imediatamente a recompensa da fé e da virtude; uma
coisa é penar muito tempo e purificar-se nas chamas do Purgatório e outra coisa
é ter removido todos os pecados, pelo martírio”.
Os Concílios
ecumênicos de Cartago, Lyon, Florença e Trento definiram bem claramente a fé na
existência do Purgatório. Nas antiqüíssimas orações litúrgicas, a Igreja pede a
Deus que “absterja as manchas que ainda aderirem às almas dos fiéis defuntos” –
que “delas se compadeça e lhes conceda o lugar da paz e da luz” – "que as tire
das tristes moradas e as faça gozar da sorte dos justos”.
Esta doutrina da
Igreja está muito de acordo com a razão. Se é certo que no céu entrarão somente
as almas purificadas; se é certo que poucos homens na hora do trânsito estão
isentos da mais leve culpa, certo é também que, com pouquíssimas exceções, os
homens ficariam sempre excluídos do céu, se não houvesse na eternidade um lugar
de expiação, salvo se Deus, na sua misericórdia, perdoasse sumariamente todos os
pecados e as respectivas penas na hora da morte, o que não acontece. Na
eternidade Deus “dará a cada um a paga, segundo as suas obras”. (Mt. 16, 27).
Negar a existência do Purgatório equivaleria à exclusão do gênero humano quase
inteiro da eterna bem-aventurança, o que seria contra a fé e a razão.
2º. No Purgatório serão purificadas as almas dos
justos - O Purgatório é um lugar, onde não prevalece a misericórdia,
mas a justiça divina. As penas das almas devem ser de natureza a satisfazerem
plenamente à justiça divina. É claro que devem estar em proposição exata com a
gravidade da ofensa, que Deus pelo pecado sofreu. Quem poderá aliviar a
gravidade da ofensa, que uma pobre criatura se atreva a fazer ao Criador ?
“Terrível é cair nas mãos de Deus vivo” . (Hebr. 10, 31).
O Purgatório é um
lugar de penitência, que igual não tem aqui na terra. A razão é clara. Toda a
penitência feita aqui, por mais rigorosa que seja, tem por fim preservar o homem
da penitência futura na eternidade. Se assim é, a penitência a fazer-se na
eternidade deve ser extremamente dolorosa. Se os maiores Santos castigavam o
corpo com tanto rigor; se os primeiros cristãos prontamente tomavam sobre si as
disciplinas mais duras e humilhantes, não era para outro fim, senão para deste
modo se livrarem das penas temporais na eternidade. Se os rigores dos Santos, se
as penitências públicas que estavam em uso no tempo da Igreja primitiva, não
suportam comparação com as penitências do Purgatório, forçoso é concluir que
estas devem ser mui dolorosas.
3º. Natureza das penas - O Purgatório é
um lugar de purificação, que assustaria, porém, os maiores penitentes, os mais
dedicados amigos da Cruz. Por quê ? Porque a purificação realizada no Purgatório
é inteiramente diferente daquela que Deus costuma aplicar nesta vida. A
purificação feita aqui é meritória, em atenção à Paixão e Morte de Jesus
Cristo. A purificação, porém, no
Purgatório é um sofrimento que não oferece o menor merecimento; são penas de que
a alma, contra a vontade de Deus, se tornou merecedora pelos pecados. Davi pediu
a Deus: “ Senhor, não me arguas em teu furor, nem me castigues na tua ira”; isto, segundo a explicação de Santo
Agostinho, quer dizer: Assisti-me, ó meu Deus, para que não mereça vossa ira,
isto é, as penas do purgatório.
Quem são aquelas
almas que penam no Purgatório ? Pela
maioria não são nossas conhecidas, mas entre todas nenhuma há que nos seja
estranha. Todas elas, sem exceção alguma, são unidas a nós pelo laço da graça
santificante: são portanto nossas irmãs em Jesus Cristo. Como não negamos o
nosso socorro ao nosso irmão grandemente necessitado, não devemos negá-lo às
pobres almas, que sofrem incomparavelmente mais, sem a possibilidade de melhorar
a sua sorte, ainda mais, quando temos em nossas mãos meios poderosos para
aliviar-lhes as dores. Não haverá entre as almas uma ou outra, que nos deva interessar mais de perto ? Descendo em espírito às trevas do
Purgatório, lá não descobriremos talvez as almas de nossos pais, parentes,
amigos e benfeitores ? A caridade, a gratidão não exigem de nós, que lhes
prestemos o nosso auxílio ? Não têm elas direito à nossa intervenção, ainda mais
quando as penas lhe foram causadas por pecados que cometeram talvez por nossa
culpa ?
É natural e justo
que devemos expansão à nossa dor, quando um dos nossos queridos entes nos é
arrebatado pela morte; o verdadeiro amor, porém, exige de nós alguma coisa mais.
Cumpre que unamos as nossas lágrimas ao sacrifício de Jesus Cristo no Gólgota;
cumpre que a nossa dor seja uma dor ativa, como ativa foi também a dor que Jesus
Cristo sentiu junto ao túmulo do amigo Lázaro. A nossa dor pela perda dos nossos
pais, parentes e amigos não se deve limitar a manifestações exteriores. Por mais
ricas que sejam as coroas depositadas nos túmulos dos nossos mortos; por mais
vistosos que se apresentem os monumentos que lhes erigimos sobre os restos
mortais, não preservam o corpo da decomposição, nem defendem a alma contra os
tormentos do Purgatório. Não querendo fazer-nos culpados de ingratidão e
inconsciência, é mister que empreguemos os meios que a Igreja tão generosamente
nos oferece, como sejam: a recepção dos santos Sacramentos, em particular a SS.
Eucaristia, o santo sacrifício da Missa, obras de penitência e caridade, as
santas indulgências, etc. Um Pai Nosso rezado com devoção e humildade pelas
almas, vale mais que muitas coroas; uma santa Missa celebrada pelo descanso
eterno de uma alma, aproveita-lhes infinitamente mais que um suntuoso monumento,
porque a santa Missa é o sacrifício expiatório por excelência.
O espírito pagão,
que, com sua ostentação vaidosa e balofa, se infiltrou em todas as camadas da
nossa sociedade, procura também se insinuar no santuário, o que em grande parte
já conseguiu. Como são diferentes os enterros de hoje, daqueles que os primeiros
cristãos faziam nas catacumbas ! Naquele
tempo havia muita devoção e pouca flor; hoje há pelo contrário, uma imensidade
de flores e coroas e pouca ou nenhuma devoção. Os primeiros cristãos levavam os
defuntos ao cemitério, cantando salmos e recitando orações; os cristãos de hoje
acompanham os enterros por simples formalidade, sem lhes vir a idéia de rezar
uma Ave Maria sequer pelo descanso do falecido; os primeiros cristãos confiavam
os defuntos com muito carinho à terra, como uma semente preciosa da futura
ressurreição gloriosa; os enterros de hoje são quase destituídos por completo de
tudo que possa lembrar as verdades eternas.
Como é bela a
devoção às almas do Purgatório! Agradável a Deus, proveitosa às pobres almas, é
utilíssima a nós mesmos. Não fechemos o nosso ouvido aos gemidos dos nossos
irmãos, que padecem no Purgatório. Eles levantam as mãos para nós, suplicando o
nosso auxílio. Talvez sejam nossos pais; um pai amoroso, que nos dedicava os
seus cuidados, dia e noite; talvez a
mãe, que nos amava tão ternamente; irmãos, cuja morte tanto nos
entristeceu; filhos, que eram o encanto
da nossa vida; o esposo, sempre tão dedicado e fiel cumpridor dos deveres; a
esposa, a fiel companheira, o anjo do lar. Todos sofrem, sofrem penas amargas,
impossibilitados de melhorar a sorte. A nós se dirigem suplicantes: “Compadecei-vos de mim, ao menos vós, que
sois meus amigos, porque a mão do Senhor me tocou” . (Job. 19,
21).
Reflexões:
Há pessoas que não temem o Purgatório e
tampouco cuidam de dar a Deus a necessária satisfação das suas culpas. Dou-me
por muito satisfeito, assim dizem, se Deus não me condenar. Outros há que
confiam nas orações e sufrágios dos parentes e amigos ou nas santas Missas, para
cuja celebração providenciaram no testamento. Aqueles se convençam de que
impunemente ninguém ofende a Deus e que o pecado leve é caminho seguro para
culpas graves. Os outros leiam e
ponderem as seguintes palavras de Tomás a Kempis: “ Não te fies demais nos
amigos e parentes e não proteles tua salvação para mais tarde; mais depressa que
pensas, se esquecerão de ti os homens. – É melhor providenciar em tempo e
despachar já de antemão boas obras para a eternidade, do que confiar no auxílio
de outros depois da morte. Se não providenciares em teu interesse quem o fará
por ti?”. Só por estas palavras, não deveríamos nós, tomarmos consciência
quanto à nossa responsabilidade em elevar diariamente nossas orações e
sacrifícios, mandar celebrar missas pelo menos às almas dos nossos parentes e
amigos que partiram para a eternidade? Aproveitemos o pouco tempo que nos resta
para socorrer as almas do purgatório, pois nós também precisaremos em breve
desse precioso auxílio, especialmente da intercessão das almas que de lá forem
libertadas com a nossa ajuda.
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Todos os Finados
Para todos os povos da humanidade, seja qual for a origem, cultura e credo, a morte continua a ser o maior e mais profundo dos mistérios. Mas, para os cristãos, tem o gosto da esperança. Esse é o mistério pascal de Cristo: morte e ressurreição. Ele nos garantiu que para quem crê, for batizado e seguir Seus ensinamentos, a morte é apenas a porta de entrada para desfrutar com Ele a vida eterna no Reino do Pai.
Enquanto para todos os homens a morte é a única certeza absoluta, para os cristãos ela é a primeira de duas certezas. A segunda é a ressurreição que nos leva a aceitar o fim da vida terrena com compreensão e consolo. Para nós, a morte é um passo definitivo em direção à colheita dos frutos que plantamos aqui na Terra.
A Igreja nos ensina que as almas em purificação podem ser socorridas pelas orações dos fiéis. Assim, este dia é dedicado à memória dos nossos antepassados e entes que já partiram. Encontramos a celebração da missa pelos mortos desde o século V.
Um dos mais belos Dogmas da Igreja é o da “Comunhão dos Santos”. Dessa maneira entendemos que os que estão no Céu, na feliz morada com Deus para sempre, os que se purificam no purgatório, e nós, que ainda caminhamos pelas estradas deste mundo, formamos um só corpo. Por esse motivo, podemos e devemos rezar pelos que partiram, pois nossas orações são eficazes para ajuda-los a mais rapidamente chegarem à casa definitiva do Pai.
Reflexão:
A recordação dos fiéis defuntos nos projeta para o futuro. Nossa fé fala-nos de Esperança, a grande palavra chave nesse dia. Trata-se do anseio que todo homem tem de ter a verdadeira felicidade, a felicidade duradoura, sem máculas e sem fim. Essa felicidade só se pode dar no encontro definitivo com Deus, que é a essência do Amor e do Belo. A missão de Jesus, revelada nos Evangelhos, é de dar a vida eterna a todos os que crêem em seu nome.
Colaboração: Padre Evaldo César de Souza, CSsR
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