
Rendeiro de Cafarnaum era Levi, filho de Alfeu, que mais tarde mudou o nome em
Mateus, dom de Deus. Cafarnaum era a cidade pela qual Jesus Cristo mostrava
grande simpatia, tanto que os santos Evangelhos a chamam sua cidade. Na sinagoga
ou na praia do lago, doutrinou freqüentemente e curou muitos doentes.
Foi numa dessas ocasiões que Jesus, tendo pregado na praia, passou perto do
telônio de Levi, parou e disse a este: "Segue-me". Levi levantou-se
imediatamente, abandonou o rendoso negócio, mudou de nome e de vida. Não é
provável que esta mudança tão radical tenha sido fruto de um entusiasmo
espontâneo. É antes, de se supor, que Levi tenha tomado essa resolução devido ao
que vira e ouvira, de modo que o convite positivo do divino Mestre lhe tenha
pôsto têrmo às últimas dúvidas sobre a orientação da sua vida futura. Diz São
Jerônimo que Levi, vendo Nosso Senhor, ficou atraído pela divina majestade
que fulgurava nos olhos de Jesus Cristo. Converteu-se Levi, diz Beda o
Venerável, porque aquele que o chamou pela palavra, lhe dispôs o coração pela
graça divina.
Mateus deu em seguida um grande banquete de despedida aos amigos e colegas, e
convidou também Jesus e os discípulos. Os fariseus e escribas que, com olhos de
lince observavam todos os gestos do Mestre, vendo que este aceitara o convite,
acusaram-no dizendo: "Este homem anda com publicanos e pecadores e banqueteia-se
com eles!". Também os discípulos de Jesus tiveram de ouvir repreensões: "Como é
que o vosso Mestre se senta à mesa com os pecadores?". Jesus, porém,
respondeu-lhes: "Não são os sãos, mas sim os doentes, que necessitam do médico.
Não vim para chamar os justos, senão os pecadores". Daí em diante Mateus foi um
dos discípulos mais dedicados ao divino Mestre, e seguiu-o por toda a
parte.
Logo depois da Ascensão de Jesus Cristo e da vinda do Espírito Santo, Mateus,
junto com os outros Apóstolos, pregou o Santo Evangelho nas províncias da
Palestina e, com os demais Apóstolos, julgou-se feliz em poder sofrer injúria
por amor de Jesus. Foi São Mateus entre os Apóstolos o primeiro que escreveu um
relatório
da vida e morte de Jesus Cristo, dando a este livro o título de "Evangelho", que
significa: "boa nova". Este Evangelho era escrito em sírio-caldaico, para o uso
dos primeiros cristãos da Palestina. São Bartolomeu levou consigo uma cópia para
as Índias.
Quando os Apóstolos se espalharam por todo o mundo, São Mateus dirigiu-se para a
Arábia e Pérsia, onde sofreu cruéis perseguições pelos sacerdotes indígenas. São
Clemente de Alexandria diz que São Mateus era homem de mortificação e
penitência, e alimentava-se só de ervas, raízes e frutas. Sofreu maus tratos na
cidade de Mirmene.
Os pagãos arrancaram-lhe os olhos e, preso com algemas, esperou no cárcere
o dia em que devia ser sacrificado aos deuses, por ocasião da grande festa
idólatra. Deus, porém, não abandonou seu servo; mandou-lhe um Anjo que lhe
curou a vista e o libertou da prisão. São Mateus seguiu então para a Etiópia.
Também lá o demônio quis tolher-lhe os passos. Dois feiticeiros de grande fama
opuseram-se-lhe, mas São Mateus venceu-os pela força esmagadora dos argumentos
e pelos milagres que fazia, em nome de Jesus Cristo. Removido este obstáculo,
o povo aceitou a religião de Deus humanado.
Foi por intermédio do eunuco da rainha Candace, o mesmo a quem São Felipe
batizou, que São Mateus obteve entrada no palácio real. Lá havIa grande luto
pela morte do jovem príncipe herdeiro Eufranon. São Mateus, tendo sido chamado
ao palácio, fez o defunto ressurgir, milagre este que encheu a todos de
admiração. O rei, em sinal de alegria e gratidão, mandou arautos por todo o
país deitarem pregão da seguinte ordem: "Súditos! Vinde todos à capital ver um
Deus, que apareceu entre nós, em forma humana!".
Afluíram aos milhares os súditos de todas as partes do reino, trazendo perfumes
e insenso, para serem oferecidos ao Deus que tinha aparecido. Mateus, porém,
esclareceu-os dizendo: "Eu não sou Deus, como julgais que seja, mas servo de
Jesus Cristo, FIlho de Deus vivo; foi em seu nome que fiz o filho de vosso rei
ressuscitar; foi Ele que me enviou a vós, para vos pregar sua doutrina e vos
trazer sua graça e salvação". Essas palavras tiveram bom acolhimento e a maior
parte do povo converteu-se à religião de Jesus Cristo. A Igreja da Etiópia
chegou a ser uma das mais florescentes dos tempos apostólicos. O rei Egipo e
família eram cristãos fervorosíssimos, tanto que Efigênia, a filha mais velha,
fez voto de castidade perpétua e a seu exemplo, muitas filhas das famílias mais
ilustres consagraram-se a Deus, numa vida de perfeição cristã.
Pela morte do rei subiu ao trono seu sobrinho Hírtaco, o qual, para estabelecer
o governo sobre bases mais sólidas, pediu a Efigênia em casamento. Esta recusou,
alegando o voto feito a Deus. Hírtaco, não se conformando com esta resposta,
exigiu que São Mateus fizesse valer a autoridade de Bispo, para que se
realizasse o enlace desejado. São Mateus declarou ao príncipe não ter
competência Para envolver-se no caso.
Vendo-se assim, profundamente contrariado nos seus planos, Hírtaco deu ordem aos
soldados de fazer desaparecer o Apóstolo. Esta ordem foi executada na igreja
onde São Mateus celebrava a Missa. Pondo de lado o respeito devido ao lugar e à
pessoa do santo Apóstolo, os sicários do rei mataram-no no próprio altar.
O corpo do Santo Mártir foi por muito tempo objeto de grata veneração do povo
cristão da capital. No ano de 930, foi transportado para Salerno, na Itália,
onde São Mateus até hoje é festejado como padroeiro da cidade e do bispado.
relíquias para a cidade.
REFLEXÕES
São Mateus, dos Apóstolos talvez
o mais inteligente, o mais rico, antes de sua vocação não era santo. Pelo
contrário, das acusações que os judeus levantavam contra Nosso Senhor, era esta
uma das mais graves: "Ele come com os pecadores", aludindo ao gabeleiro. No
entanto a prontidão com que seguiu o convite, a ordem do divino Mestre, não foi
menor que a dos outros Apóstolos, que apenas deixaram umas redes velhas, quando
a resolução de Mateus exigiu o sacrifício dum bom emprego, de uma avultada
fortuna. A São Mateus devemos o belíssimo Evangelho, que tantos e tantos
episódios da vida de Jesus Cristo nos relata. A São Mateus é devida a
transmissão dos mais belos discursos do divino Mestre. São Mateus, de publicano
e de Pecador, tornou-se grande amigo, Apóstolo do Salvador, e glorioso é o trono
que possui no reino de Deus. Estes traços da vida de São Mateus são muito de
molde a animar os pobres pecadores que, conscientes de sua miséria, facilmente
se entregam ao desânimo, senão ao desespero. Deus não quer a perdição de
ninguém. Também o pecador mais monstruoso tem acesso ao trono da misericórdia
divina, desde que se resolva a quebrar as cadeias do pecado, a fazer penitência
e a entregar-se a Deus. Se é grande a maldade dos homens, maior é a Misericórdia
divina, que acolhe benignamente a todos que se lhe dirigem, tendo o coração
contrito e humilhado.
* * * * * * * * *
* Referências:
Biografia e Reflexões - Na luz Perpétua, 5ª.
ed., Pe. João Batista Lehmann, Editora Lar Católico - Juiz de Fora - Minas Gerais, 1959.

Ifigênia ou Efigênia, como também é conhecida, de acordo com o livro de Jacobo de Vorágine, A Lenda Dourada, era filha do rei etíope Eggipus. Ela foi dedicada a Deus por Mateus, o Evangelista. Quando Hirtacus sucedeu o pai da santa no poder, o então soberano prometeu que daria metade de seu reino ao apóstolo caso persuadisse a filha do falecido monarca a se casar com ele. Mateus, então, convidou o rei a acompanhar a missa de domingo. Aproveitando que ele ali se encontrava, explicou-lhe que não poderia permitir que a jovem virgem firmasse matrimônio com ele, pois ela fora consagrada ao Senhor. Enfurecido, Hirtacus então mandou seus homens matarem Mateus aos pés do altar, o que o transformou num mártir da fé cristã.
Ainda descontente com a morte de Mateus, o rei tentou destruir a casa de Ifigênia, incendiando-a. Entretanto, o apóstolo apareceu e expulsou as chamas do lugar, voltando-as em direção ao palácio real. Completando o castigo divino, o filho de Hirtacus foi possesso pelo demônio e ele próprio contraiu lepra, vindo logo a se matar.
Então, o povo aclamou o irmão da santa como seu rei. Ele reinou por setenta anos e foi sucedido por seu filho, que, por sua vez, mandou construir pela Etiópia muitas igrejas cristãs.
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