1. Santos Aquiles e Nereu
Etimologicamente os nomes "Aquiles" e "Nereu", de origem grega, significam respectivamente "força" e "me pertence".
Irmãos, ambos eram soldados adscritos ao tribunal militar durante o governo do imperador Dioclesiano. Tempos em que a maldade perpetrava ataque feroz contra os seguidores de Cristo. Contudo, quanto mais se alargavam as fileiras do martírio, tanto mais florescia o cristianismo revestido com a força do testemunho vivo da verdade cristã.
Aquiles e Nereu eram flores que encontravam-se em meio a um jardim de espadas, sangue e guerra quando converteram-se ao cristianismo. Diante disso, o dilema que se lhes apresentava não era fácil: se por um lado, renegassem sua fé e adorassem os ídolos, se livrariam da morte. Por outro, se abandonassem o exército, seriam mortos, já que as regras militares eram rigorosíssimas nesse sentido. Abrasados, porém, pela lembrança de Jesus Crucificado e das convicções que lhes inflamava o coração, não era difícil prever o inevitável desenlace por amor a Deus e à Igreja. Cumpriam perfeitamente com seu dever de militares, mas passaram a se apresentar como dois jovens fervorosíssimos, fazendo orações ao Deus dos cristãos, tornando-se comunicadores exemplares da Palavra de Deus.
Finalmente decidiram abandonar o exército. Não tardou que fosse decretado o exílio na ilha de Ponza, onde permaneceram ambos a serviço de Santa Flávia Domitila, sobrinha do cônsul Flávio Clemente, com a qual partilharam as tribulações advindas pelas ordens imperiais. O historiador Eusébio diz que esta nobre dama de Roma fora enviada ao desterro por ordem de Domiciano porque também proclamara sua fé ao Divino Redentor. Segundo São Jerônimo "o exílio foi tão cruel e longo que isto por si só já lhes serviria de martírio". Foram condenados à morte, entregando gloriosamente a alma pelo fogo e pela espada.
O Papa São Dâmaso escreveu no ano 400 a seguinte inscrição na tumba dos dois mártires: "Nereu e Aquiles pertenciam ao exército do imperador. Porém, se negaram a cumprir certas ordens que a eles pareciam cruéis. Ao converter-se ao cristianismo abandonaram toda violência e preferiram ter que abandonar o exército antes que ser cruéis com os outros. Proclamaram seu amor a Cristo nesta terra e agora gozam da amizade de Cristo na eternidade".
O Sepulcro dos santos conserva-se no cemitério de via Ardeatina, onde há uma Basílica edificada em sua honra
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2. São Pancrácio
Tudo o
que pode haver de edificante na vida de um jovem, é encontrado na vida de
Pancrácio, um dos mais gloriosos mártires do século quarto. Contava com apenas
14 anos quando rendeu a alma à Deus, recebendo a palma do martírio e elevado
aos altares num grande exemplo de coragem, personalidade e fé na doutrina de
Cristo Salvador.
Filho de
pais nobres e ricos, era natural de Symnado, na Frígia. O pai, ocupava altas e
honrosas posições no governo de Diocleciano, que muito o estimava e com sua
amizade pessoal o distinguia. Mas, dando preferência à sua fé, seu pai pagou
esta fidelidade com o martírio. Pancrácio não conheceu seu progenitor, tendo
sido confiado à guarda de seu tio Dionísio que, apesar de pagão, educou seu
sobrinho a quem devotava o mais terno amor paternal.
Passados
alguns anos, mudou de domicílio, transferindo-se para Roma para proporcionar ao
sobrinho a ocasião de relacionar-se com os mais exímios professores e membros
da alta sociedade. Nessa ocasião , já ocorriam rumores de que o imperador
Diocleciano tencionava exterminar o cristianismo, exigindo de seus súditos
homenagens divinas à sua pessoa.
A pouca
distância da vivenda de Dionísio, morava oculto o Papa Marcelino, hóspede de um
cristão carpinteiro do palácio imperial. Observando a movimentação nesse local
de homens e mulheres de todas as classes e investigando as razões, acabou
descobrindo que no local havia reuniões secretas de cristãos devotos à
verdadeira doutrina de Cristo. Dionísio, já fortemente inclinado ao cristianismo
e Pancrácio, ouvindo muitas boas referências a respeito do Papa, nutriam
ardente desejo de pessoalmente conhecer Sua Santidade. Certa noite dirigiram-se
ao Porteiro que, desconfiado, relutou em deixá-los entrar, mas confessando que
queriam conhecer a religião cristã, foram cordialmente recebidos pelo Papa.
Durante dias consecutivos ouviram, em reuniões, as explicações da doutrina
cristã, até que finalmente foram admitidos no Batismo e ao culto divino nas
catacumbas.
Nesse
ínterim, o imperador firma o decreto de perseguição aos cristãos. Em poucos
dias registraram-se não só numerosos casos de prisão de fiéis, mas
instrumentos de tortura e morte fizeram jorrar o sangue dos cristãos
abundantemente. Dionísio, ao ver tais atrocidades, morreu num caloroso acesso,
pois seu coração sensível não suportou ver o modo cruel de como os cristãos
eram tratados. Seu pupilo e muito querido Pancrácio prometeu fidelidade absoluta
da fé, embora isso implicasse em martírio.
Como
Pancrácio era de natureza nobre, houve de se justificar diante do imperador,
pois fora delatado como cristão. Antes de comparecer ao tribunal, pediu a
bênção do Papa, que o animou e deu-lhe a santa Comunhão.
O
imperador, apelando para a sua nobreza, usa de todos os meios persuadir o jovem
menino, tentando convencer-lhe de que os cristãos o haviam enganado e que
deveria voltar-se para suas origens e amar os deuses do imperador, caso
contrário, justificaria com seu sangue o rigor das leis. Mas, Pancrácio, com
timbre argentino de sua voz juvenil, respondeu: "imperador, enganai-vos em supor
que me deixei iludir pelos cristãos. Só pela misericórdia de Deus cheguei ao
conhecimento da Salvação. Sou menino de 14 anos apenas, mas saiba o senhor que
Nosso Senhor Jesus Cristo reparte as suas graças não pela escala dos anos, mas
segundo a sua bondade e sabedoria. Coragem e entendimento ele nos dá, para não
ligarmos às ameaças dos imperadores maior importância que um fogo pintado.
Exigis de mim, que preste adoração aos deuses e às deusas da vossa veneração.
Ainda bem, que o sois melhor, que eles são". A tais palavras, o imperador as
interpelou de insultuosas e atrevidas, ordenando sua imediata decapitação.
À
terrível sentença, fez o semblante angélico do jovem se cobrir de santa alegria
e prontamente Pancrácio se pôs à disposição do carrasco. Sem a menor relutância,
entregou sua cabeça ao cutelo do algoz. Antes disso, proclamou: "Graças vos dou,
ó Jesus, pelo dom da fé e pela honra de me terdes aceito entre os vossos
servos".
REFLEXÕES
Que
exemplo formidável de firmeza cristã, de fidelidade a Deus e à Igreja, de
extrema valentia! Contemporâneos do imperador Dioclesiano, que pertetrou dura
perseguição aos cristãos, temos duas histórias que convergem num mesmo sentido.
De um lado, Aquiles e Nereu, dois soldados do exército que, pela fidelidade à
Cristo, abandonaram a farda da perseguição cristã e abraçaram-se à cruz de
Cristo. De outro lado, um simples menino de nome Pancrácio, com pensamento de
menino, corpo de menino, inocência de menino. Mas, com a mesma convicção
daqueles valorosos cristãos, testemunhando implacavelmente sua fé já em tenra
idade, abraçando com força inexplicável o madeiro da Cruz. Todos glorificados
com a coroa do martírio.
Ante
as magníficas histórias que o tempo registrou sobre a coragem dos nossos santos
mártires, há muito, nos dias atuais, o que refletir a respeito. Pois hoje,
nosso testemunho cristão raramente exigirá derramamento de sangue pela causa de
Cristo. Para nós, restaram apenas pequenos e insignificantes testemunhos
comparando-nos com eles. Por isso reflitamos: Se nos dizemos católicos, estamos
testemunhando nossa fé cumprindo os mandamentos de Deus e da Igreja? A missa
aos domingos faz parte da nossa existência, assim como a confissão e os demais
preceitos doutrinários? Testemunhamos a fé ajoelhando-nos nos momentos
litúrgicos próprios, ou diante do Santíssimo Sacramento? Defendemos a Igreja de
Cristo e a sua doutrina? Apoiamos o Santo Padre, quando a sociedade mundana o
ataca em relação à contrariedade da Igreja ao aborto, divórcio e
contraceptivos? Como é nossa conduta de cristãos na vida social, na família, no
trabalho?
São
Cipriano, também vítima das implacáveis perseguições do cruel imperador, foi
decapitado pelo seu testemunho cristão. Antes de morrer, tapou o rosto com as
duas mãos e pronunciou a frase: "Ai de mim, no dia do Juízo". Se um santo fez
este pronunciamento, que será de nós no dia do Julgamento, quando ao lado dos
mártires, olharmos para trás e compararmos a sua história com a nossa?
Envergonhemo-nos desde já dos nossos crimes e comecemos hoje a mudar de vida,
cumprindo o mínimo que se nos impõe, ou seja, os preceitos de Deus e da Santa
Igreja, tão criticada e perseguida pelos amigos do mundo.
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