Fatos como os que os santos Livros, referem, de Deus ter ouvido as orações de
piedosos esposos e ter-lhe dado prole, depois de longo espaço de anos, passados
em aparente esterilidade, têm se repetido na vida dos Santos, como prova a de
Santo André Corsino. Da nobre família dos Corsini, em Florença, nasceu André no
dia do Apóstolo do mesmo nome, coincidência que determinou os pais a darem este
nome ao primogênito e muito desejado filho.
Antes de dar à luz,
a piedosa mãe teve um sonho singular, que bastante a impressionou. Viu que o
filho era um lobo, o qual, correndo para a Igreja dos Carmelitas, à entrada da
mesma se transformou em cordeiro. A significação deste sonho muito mais tarde se
descobriu. André não foi um filho como os pais tinham desejado que fosse; muito
pelo contrário. Desprezando ordens, conselhos e ameaças dos progenitores, muitos
desgostos lhes causava. Certa vez, em ocasião de grande mágoa a mãe disse-lhe:
“Meu filho, estou vendo que és o lobo que me foi mostrado em sonho. A primeira
parte deste sonho está realizada. Quando chegará a segunda, que te mostre
transformado em cordeiro ?” Muito impressionado com estas palavras
da mãe, André pediu-lhe que lhas explicasse. A mãe contou-lhe o sonho e ainda
que havia feito o voto a Deus e Maria Santíssima de consagrar o filho a seu
santo serviço, voto este cujo cumprimento não só dela dependia.
André, muito
comovido com o que ouvira, caiu aos pés da mãe, chorou amargamente e prometeu
emenda de vida. Contava ele 17 anos. Foi à Igreja dos Carmelitas, pediu admissão
na Ordem do Carmo e começou uma nova vida. Tentações as mais terríveis e
impertinentes, que o demônio, a carne e o mundo lhe causaram, com a graça de
Deus corajosamente as venceu e ficou perseverante na santa vocação. Após o
noviciado, os superiores mandaram-no para Paris onde, com muito brilho, concluiu
os estudos. Quando soube que os parentes lhe preparavam carinhosa e festiva
recepção em Florença, onde devia celebrar a primeira Missa, foi a um convento
bem distante da cidade natal e celebrou a Missa com todo o recolhimento.
Já naquele tempo se
lhe notavam coisas extraordinárias na vida religiosa. A um primo seu, João
Corsini, livrou de um tumor maligno na garganta, impondo-lhe as mãos e fez com
que este parente se convertesse a Deus, depois de ter levado uma vida bem
desregrada.
Convidado para
batizar o filhinho de um amigo, durante a santa cerimônia começou a chorar
amargamente. Aos que lhe perguntaram o motivo daquela comoção disse: “Choro,
porque esta criança nasceu para a desgraça da família”. E assim aconteceu. O
infeliz filho morreu como traidor da pátria e todos os parentes foram
degradados.
Poucos anos depois
foi nomeado superior do convento em Florença e nesta qualidade, principalmente
como pregador, trabalhava com muito bom resultado. Quando morreu o Bispo de
Fiesoli, o cabido daquela diocese elegeu André para sucessor. Este, porém,
sabendo desta eleição, retirou-se a uma cartuxa bem distante, e baldados foram
as diligências para encontrá-lo. Houve então segunda sessão dos eleitores, para
procederem a uma nova eleição. Não chegaram a realizá-la, pois uma criança de
três anos exclamou em alta voz: “Deus quer que André seja o nosso Bispo. Ele
está na cartuxa em oração”. Uma comissão que para lá se dirigiu, achou o Santo,
como a voz infantil tinha afirmado. André, por sua vez, teve um aviso do céu
para aceitar o novo cargo.
Sendo Bispo, em nada
modificou a vida, a não ser nos exercícios de penitência que redobrou. Sabendo
que Deus exige do Bispo maior santidade que os fiéis e do clero, André não se
poupou, para corresponder a esta exigência. O uso do cilício era constante. À
recitação do breviário acrescentou a dos salmos penitenciais e uma dura
flagelação. A mesa do Santo Prelado era pobre e o jejum freqüente hóspede em sua
casa. Grande parte da noite passava-a em oração e meditação e, para repouso,
servia-lhe uma cama dura e incômoda. O trabalho diurno era dedicado à
administração da diocese, à instrução religiosa da mocidade e às visitas aos
doentes. Conversas com pessoas de outro sexo eram limitadíssimas; aduladores e
caluniadores detestava-os, e grande amor devotava aos pobres. Como o Papa São
Gregório, possuía um canhenho, com os nomes e as necessidades dos
indigentes.
Não podia o Bispo
deixar de ser alvo das simpatias dos diocesanos. Todos o amavam como um
verdadeiro pai e o veneravam como um Santo. Desta maneira era muito grande a
influência que André exercia sobre os espíritos dos súditos. Muitos se
converteram, outros fizeram as pazes com os inimigos. Em Bolonha existia uma
grande divergência entre a aristocracia e o povo. Todas as tentativas da parte
do clero e de pessoas importantes, para conciliar os partidos, tiveram resultado
negativo. Receando piores conseqüências, o Papa Urbano V, incumbiu ao Bispo de
Fiesoli a missão de restabelecer a paz entre as duas partes inimigas. O que
parecia coisa impossível, André o conseguiu, e seu nome estava na boca de todos,
que o bendiziam como anjo da paz.
No ano de 1372, na
noite de Natal, teve um desmaio. Uma voz do céu anunciou-lhe a morte para o dia
6 de janeiro. No dia seguinte lhe sobreveio uma febre, que não mais o deixou.
Preparando-se para a viagem à eternidade, recebeu com muita devoção os santos
Sacramentos. As suas últimas palavras foram: “Agora deixai, Senhor, partir em
paz o vosso servo, segundo a vossa palavra”. – O corpo do Santo descansa na
Igreja dos Carmelitas, em Florença. O povo, em vez de rezar pelo descanso eterno
da alma do Bispo, dirigia orações ao que tinha em reputação de Santo.
Urbano VIII
canonizou-o em 1639. Santo André Corsino é padroeiro da cidade de Florença.
Santo André Corsino,
não achando tempo necessário para rezar de dia, tomava as noites,
passando-as em colóquios com Deus. O mundo chama isto extravagância, senão mania
religiosa. Mania, a seu ver, não é passar as noites no jogo, nos bailes e
divertimentos e perder tempo com futilidades e na ociosidade. O conceito que
Deus fará dos Santos e dos filhos do mundo não poderá ser duvidoso. “Meu Deus e
Senhor – exclama São Lourenço Justiniano – quanto tempo de minha vida passou sem
eu dele ter tirado proveito ! Que direi no dia do juízo ! Como poderei levantar
os olhos a vós, Senhor da minha vida, quando exigires conta dos dias da minha
existência !” Assim falava um Santo, seriamente preocupado com a
responsabilidade que tinha perante Deus do uso que fez do tempo.
-
Que uso fazes do tempo, que Deus te deu ? Lembra-te que
deves dar conta a Deus da tua administração.
Achando-se doente,
Santo André recusou os remédios que se lhe ofereciam, para diminuir-lhe o
sofrimento. Deus não exige de ti este sacrifício. O uso de remédios é lícito.
Lícito é o recurso a medicamentos, que trazem alívio a dor. É inegável porém,
que Deus nos manda doenças e dores para beneficiar a alma. Para muitos uma
doença é um bem extraordinário. Nos sofrimentos se lembram de Deus
e fazem penitências. “A doença do corpo é saúde para a alma”, diz São Gregório.
“Muitos há, diz Santo Agostinho, que, achando-se doentes, não pensam em
impurezas, enquanto que gozando saúde, são escravos da luxúria”.
-
Se Deus te mandar uma doença, aceita-a humildemente e entrega-te
cegamente a sua Providência.
Antes de dar à luz o
filho, a mãe do Santo teve um sonho singular. Sonhos há que têm por autores os
Anjos ou o próprio Deus; são benefícios e contribuem extraordinariamente para a
santificação do homem, como provam numerosos fatos do antigo e novo Testamento.
Sonhos diabólicos perturbam e têm por fim afastar o homem do bem e incitá-lo ao
pecado. Muitos são os sonhos e em sua quase totalidade, simples ativações do
sistema nervoso e como tais, nenhuma importância têm. Há pessoas, e não poucas,
que atribuem aos sonhos uma influência poderosa sobre a vida, e com muito
empenho procuram obter-lhes a explicação. Esta prática é supersticiosa, é
pecado. Uma palavra do Espírito Santo não te deixará em dúvida sobre o valor dos
sonhos; ele diz: “Não ponhas nele o teu coração, porque os sonhos têm feito
extraviar a muitos, que caíram, por terem posto neles a sua confiança”. (Ecl.
34. 6, 7).
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