Também nesta data - Santo Alexandre e São
Donato
Existia no ano de 248, na cidade de Alexandria, um célebre feiticeiro, que
profetizava uma grande desgraça, de que a cidade seria vítima, se os adoradores
dos deuses não resolvessem a exterminar os cristãos, que eram seus maiores
inimigos. O povo deu crédito às predições do embusteiro, e abriu forte campanha
contra os discípulos de Cristo.
Uma das vítimas
da cruel e estúpida perseguição foi Apolônia, donzela conhecida na cidade e
estimada pelas suas virtudes. Levada ao templo pagão e intimada a prestar
homenagens às divindades, resolutamente se negou, dizendo: “Meu Deus é Jesus
Cristo e só a ele adorarei. Enquanto tiver vida, minha língua louvará a Deus,
meu Senhor”.
Os algozes pagãos
ouvindo estas palavras, armaram-se de pedras e quebraram-lhe os dentes.
Apolônia, horrivelmente machucada e sentindo fortíssimas dores, levantou os
olhos ao céu, sem pronunciar uma palavra, sem soltar um só gemido. Em vista
desta firmeza, os pagãos ameaçaram-na com a fogueira. Apolônia respondeu: “Como
poderia trair aquele que meu coração escolheu, o meu Esposo, de quem é todo o
meu amor? Não o farei. Antes sofrer morte crudelíssima e morrer
mil vezes, que abandonar a meu Jesus”. Fizeram então os pagãos uma grande
fogueira e puseram a donzela diante da seguinte alternativa: “Ou agora mesmo
sacrificas aos deuses, ou te lançamos viva ao fogo”. Apolônia não respondeu,
deteve-se um momento, como se quisesse deliberar alguma coisa e de repente, com
um movimento brusco, desembaraçando-se das mãos dos algozes, se lançou ao fogo.
As chamas consumiram-lhe inteiramente o corpo. Os cristãos procuraram depois os
ossos da mártir e guardaram-nos com muito respeito. Em Roma foi construída uma
igreja em honra de Santa Apolônia.
O nome da santa
Mártir goza de grande veneração entre o povo cristão. Invocam-lhe a intercessão
nos sofrimentos dos dentes.
A Igreja Católica não
aprova o suicídio, ainda que os motivos sejam iguais aos que levou a mártir
Apolônia a buscar a morte. Os Santos Padres, embora não justifiquem o suicídio
de Santa Apolônia, nem tão pouco o propõe aos cristãos, como exemplo para
imitar. Os mesmos Santos Padres explicam-no, supondo em Apolônia, uma inspiração
superior e grande desejo de estar com Jesus Cristo, seu divino Esposo. O
martírio de Santa Apolônia deu-se a 9 de fevereiro em 248 ou 249.
Reflexões:
A admirável
constância na fé, que Santa Apolônia revelou no meio de bárbaras torturas e
desumanos tormentos, teve sua fonte no amor a Jesus Cristo. Só o amor a Deus é
capaz de dar ao homem força e coragem para fazer os maiores sacrifícios. O amor
de Deus transforma o homem carnal e egoísta, e fá-lo esquecer as comodidades e
prazeres da vida. A alma que tem amor a Deus, despreza a dor, o escárnio do
mundo e procura unicamente agradar ao seu supremo Senhor.
Dores e
tormentos, longe de serem consideradas uma desgraça para o homem, amigo de Deus,
são por ele recebidos e aproveitados, como meios poderosos de
desenganá-lo cada vez mais do mundo e uni-lo ao Bem
Supremo. Eis a explicação da alegria dos mártires, fato
estranhável que observamos nos heróis do cristianismo: em vez de seguirem o
impulso natural do homem, que se entristece desespera na presença da morte
iminente, mostram-se alegres e entoam hinos de louvores.
O modo por que Santa
Apolônia pôs termo à existência não nos pode e nem deve servir de exemplo, para
o imitarmos. Não é lícito a ninguém, nem aos próprios médicos, acelerar a morte,
por mais inevitável que seja. Se os Santos Padres elogiam a coragem de Santa
Apolônia, é por que razão reconhecem nesse proceder
uma inspiração do Espírito Santo, e o impulso do ardente amor a
Jesus Cristo, a quem desejava confessar viva e morta.
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