Santa Ágata é uma das mais gloriosas heroínas da Igreja primitiva e cuja
intercessão é invocada diariamente, no Cânon da santa Missa. Natural da Sicília,
pertenceu a uma das famílias mais nobres do país. De pouca idade ainda, Ágata
consagrou-se à Deus, pelo voto da castidade. O governador Quintiano, tendo tido
notícia a formosura e grande riqueza de Ágata, acusada do crime de pertencer à
religião cristã, mandou-lhe ordem de prisão. Ágata, vendo-se nas mãos dos
perseguidores, exclamou: “Jesus Cristo, Senhor de todas as coisas, vós vedes o
meu coração e lhe conheceis o desejo. Tomai posse de mim e de tudo que me
pertence. Sois o Pastor, meu Deus; sou vossa ovelha. Fazei que seja digna de
vencer o demônio”. Levada à presença do governador, este achando-a de
extraordinária beleza, ficou tomado de violenta paixão pela nobre cristã, à qual
se atreveu importunar com propostas indecorosas. Ágata, indignada, rejeitou-lhe
as impertinências desavergonhadas e declarou preferir morrer a macular o nome de
cristã. Quintiano aparentemente desistiu do plano diabólico, mas para conseguir
os seus maldosos fins, mandou entregar a donzela a Afrodisia, mulher de péssima
fama, na esperança de, na convivência com esta pessoa, Ágata se tornar mais
acessível. Enganou-se. Afrodisia nada conseguiu e depois de um trabalho inútil
de trinta dias, pediu a Quintino que tirasse Ágata de sua casa.
Começou
então o martírio da nobre siciliana. Tendo-a citado perante o tribunal,
apostrofou-a com estas palavras: “Não te envergonhas de rebaixar-te à escravidão
do cristianismo, quando pertences a nobre família ?” – Ágata respondeu-lhe: “A
servidão de Cristo é liberdade e está acima de todas as riquezas
dos reis”. A resposta a esta declaração foram bofetadas, tão barbaramente
aplicadas, que causaram forte epistaxe. Depois desta e de outras brutalidades a
santa Mártir foi metida no cárcere, com graves ameaças de ser sujeita a torturas
maiores, se não resolvesse a abandonar a religião de Jesus Cristo.
O dia
seguinte trouxe a realização dessas iniqüidades. O tirano ordenou que a donzela
fosse esticada sobre a catasta, os membros lhe foram desconjuntados e o corpo
todo queimado com chapas de cobre em brasa, e os peitos atormentados com
torqueses de ferro e depois cortados. Referindo-se a esta última brutalidade,
Ágata disse ao juiz: “Não te envergonhas de mutilar na mulher, o que tua mãe te
deu para te aleitar ?”
Após esta
tortura crudelíssima, Ágata foi levada novamente ao cárcere, entregue às suas
dores, sem que lhe fosse administrado o mínimo tratamento. Deus, porém, que
confunde os planos dos homens, veio em auxílio de sua pobre serva.
Durante a
noite lhe apareceu um venerável ancião, que se dizia mandado por Jesus Cristo,
para trazer-lhe alívio e curá-la. O ancião, que era o Apóstolo São Pedro,
elogiou-lhe a firmeza e animou-a a continuar impávida no caminho da vitória. A
visão desapareceu e Ágata com muita admiração viu-se completamente
restabelecida. Cheia de gratidão, entoou cânticos, louvando a misericórdia e
bondade de Deus. Os guardas, ouvindo-a cantar, abriram a porta do cárcere e
vendo a Mártir completamente curada, fugiram cheios de pavor. As companheiras de
prisão de Ágata aconselharam-na que fugisse, aproveitando ocasião tão propícia
para isto. Ela, porém, disse: “Deus me livre de abandonar a arena antes de ter
segura em minha mão a palma da vitória”.
Passados
quatro dias, foi novamente apresentada ao juiz. Este não pode deixar de se
mostrar admirado, vendo-a completamente restabelecida. Ágata disse-lhe: “Vê e
reconhece a onipotência de Deus, a quem adoro. Foi ele quem me curou as feridas
e me restituiu os seios. Como podes, pois exigir de mim que o abandone ? – Não –
não poderá haver tortura, por mais cruel que seja, que me faça separar-me do meu
Deus”. O juiz não mais se conteve. Deu ordem para que Ágata, fosse rolada sobre
cacos de vidros e brasas. No mesmo momento a cidade foi abalada por um forte
tremor de terra. Uma parede, bem perto de Quintiano, desabou e sepultou dois
seus amigos. O povo, diante disto, não mais se conteve e em altas vozes exigiu a
libertação da Mártir, dizendo: “Eis o castigo que veio, por causa do martírio da
nobre donzela. Larga a tua inocente vítima, juiz perverso e sem coração !” Ágata
voltou ao cárcere e lá chegada, de pé, os braços abertos, orou a Deus nestes
termos: “Senhor, que desde a infância me protegestes, extinguistes em mim o amor
ao mundo e me destes a graça de sofrer o martírio, ouvi as preces da vossa serva
fiel e aceitai a minha alma”. Deus ouviu a voz de sua filha e recebeu-a em sua
glória no ano 252.
Santa Ágata
é invocada pelos cristãos contra o perigo do incêndio.
Passado um
ano depois da morte da Santa, a cidade de Catarina assistiu apavorada, uma
erupção do Etna. O povo, em sua indizível aflição, quando viu as ondas da lava
incandescia ameaçar a cidade, correu ao túmulo da Santa, tomou o véu que cobria
o seu rosto e estendeu-o contra a torrente de fogo. Imediatamente o perigo
estava afastado.
Reflexões:
Trinta dias
de contínua e calculada tentação não abalaram o ânimo e a virtude de Santa
Ágata. Se procedêssemos sempre com a mesma prudência, se quiséssemos usar as
mesmas armas, com que Santa Ágata alcançou a vitória sobre os inimigos, que
procuravam a perda de sua alma, também seríamos vencedores. As armas, que estão
sempre à nossa disposição e devemos manejar com destreza, são a oração, o jejum
e lembrança de Deus. A lembrança de que Deus está sempre presente e vê os nossos
pensamentos e as nossas obras, é capaz de dar-nos conforto na luta, e
persistência na peleja. “Ninguém dos que acreditam na presença de
Deus em todo o lugar, correrá perigo de cometer um pecado, nem pensará em
praticar um ato pecaminoso”, diz São Basílio. Com Suzana, tentada por dois
juízes, homens de má catadura, dirá também, quando o tentador o perseguir: “É
melhor cair em vossas mãos, sem que cometa o pecado, do que pecar na presença do
Senhor”. (Dan. 13)
Santa Ágata
consagrou-se a Deus e em tenra idade fez voto de castidade. Mais tarde fez a
experiência de que Deus não permite tentações que superem as nossas forças.
Embora fossem terríveis as tentações, a que o demônio e maus homens a
sujeitaram, Ágata ficou firme. A esperança no Salvador deu-lhe forças quase
sobre-humanas . A fidelidade jurada a Deus era-lhe seguro penhor da assistência
forte e valente do divino Senhor. Feliz o cristão que, como Santa Ágata, se
consagrar a Deus e se conservar fiel no cumprimento de sua promessa. Terá a
felicidade de não ficar em contato com o vício e o coração se lhe conservará
livre da influência do demônio. Pode elevar as mãos puras confiadamente ao céu e
Deus ouvir-lhe-á as orações. Nos combates tem a seu lado Aquele que venceu o
mundo. Por Ele defendido, guiado e protegido pode um mundo de inimigos
levantar-se e ameaçadoramente o atacar, a vitória será certa, a coroa
garantida.
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