Também nesta data - São Tito e Santa Paula
Os termos elogiosos com que São Paulo enaltece as virtudes de seu
discípulo Timóteo, são provas do alto valor do mesmo. Nas
epístolas do Apóstolo das gentes lemos expressões como: meu diletíssimo
filho, meu fiel colaborador, servo de Cristo, meu Irmão e Servo de Deus
no Evangelho, que não procura a si, mas a Cristo, Nosso Senhor –
todas referentes a Timóteo.
Timóteo
nasceu em Listra, na Licaônia. O pai era pagão, casado com uma hebréia, de nome
Eunice, mãe de Timóteo. Eunice abraçou a religião de Cristo, quando São Paulo
esteve em Listra. De sua mãe Timóteo recebeu o espírito cristão. Na sua segunda
chegada a Listra, São Paulo levou consigo o jovem Timóteo, na travessia pela
Ásia Menor. Timóteo tinha então apenas 20 anos. Os dois Apóstolos passaram pela
Macedônia, pregaram aos Tessalonicenses, aos Filipenses e aos Beroenses.
Os judeus expulsaram a São Paulo e ficou Timóteo continuando a obra da
pregação. Mais tarde o vemos em Atenas, para onde o mestre o tinha mandado. Uma
cruel perseguição, que viera sobre os cristãos em Tessalônica, fez com que
Timóteo para lá voltasse, para confortar e consolar os irmãos em Cristo. De
Tessalônica se dirigiu a Corinto, onde novamente se encontrou com São Paulo.
Coincide com esta época a composição da epístola de São Paulo aos
Tessalonicenses. De Corinto continuaram a viagem e chegaram a Jerusalém e Éfeso.
São Paulo mandou Timóteo e Erasto para Macedônia, com a ordem de
arrecadar subsídios para os cristãos perseguidos em Jerusalém.
Havendo-se introduzido abusos na Igreja de Corinto, para lá voltou Timóteo,
acompanhado de uma carta recomendatícia do mestre. (I Cor. 16, 10). Este o
esperou na Ásia, para depois em sua companhia ir a Macedônia e Acáia. Voltando
para a Palestina, o Apóstolo foi preso e passou dois anos na prisão. É provável
que Timóteo tenha sido seu companheiro nesta nova provação. Paulo foi levado
para Roma e Timóteo posto em liberdade. Quando Paulo voltou de Roma, Timóteo já
era bispo, e nesta qualidade foi pelo mestre mandado para Éfeso, donde devia
governar a Igreja da Ásia Menor.
Paulo
achava-se na Macedônia, quando escreveu a I.ª epístola a Timóteo. Uma segunda
foi escrita em Roma, em 65. Ambas as epístolas são documentos preciosíssimos, em
que o grande Apóstolo revela a amizade que o ligava ao discípulo. Convida-o com
muito empenho para que o visite em Roma e lhe dê a satisfação de vê-lo mais uma
vez, antes de morrer; dá-lhe instruções úteis sobre o modo como se
deve haver com os hereges; prediz novas heresias e suas conseqüências, (2 Tim.
31, 2).
Das
epístolas de São Paulo deduzimos que Timóteo era muito mortificado. Sofrendo de
fraqueza de estômago, o mestre aconselhava-o tomar de vez em quando um pouco de
vinho.
São
Timóteo é considerado primeiro Bispo de Éfeso, que lá se achava quando chegou
São João Evangelista para assumir a direção das Igrejas da Ásia.
As atas
do martírio de São Timóteo, que datam do quinto ou sexto século, dizem da sua
morte o seguinte: No ano de 97, quando era imperador Nerva, os pagãos fizeram
uma grande festa em homenagem aos deuses, e nesta ocasião organizaram um
préstito, cometendo muitas indignidades. Timóteo, vendo esta abominação, pôs-se
no meio dos idólatras e verberou-lhes energicamente o procedimento escandaloso.
Esta franqueza apostólica provocou uma ira tal da parte dos
pagãos, que se precipitaram contra ele e o mataram a pedradas e pauladas.
Reflexões:
O jejum
era fiel e inseparável companheiro dos trabalhos apostólicos de São Timóteo. A
Igreja impõe o jejum a seus filhos como uma lei de grave obrigação. Tantas
porém, são as desculpas alegadas, que praticamente é um número reduzidíssimo de
cristãos que a cumprem. O nosso tempo tem horror ao sacrifício. Quando então é
um sacrifício imposto pela religião, qualquer motivo serve para muitos se lhe
eximirem do cumprimento do mesmo. A praxe dos Santos é inteiramente diferente.
Os Santos ligam muita importância às mortificações do corpo, privando-se
voluntariamente de prazeres lícitos, para com maior facilidade se poderem
afastar dos ilícitos. (São Gregório). Sem as mortificações da carne, será
difícil, senão impossível, vencer e dominar as paixões. “Sinto em meu corpo uma
outra lei, que contraria a lei do espírito”, confessa o próprio São Paulo. É o
mesmo Apóstolo que diz: “Aqueles que pretendem pertencer a Cristo, devem
crucificar a carne, com seus apetites”. (Gal. 5, 24). Se o
Apóstolo São Paulo, se seu discípulo São Timóteo acharam necessário “castigar o
corpo e reduzi-lo à servidão” (1. Cor. 9, 27), como
podem então o jejum e a abstinência ser consideradas medidas exageradas de
penitência, por aqueles que trazem constantemente no corpo a lei do pecado?
A Igreja não exige de
seus filhos a execução de penitências que debilitem o organismo ou prejudiquem a
saúde. Estão isentos da lei do jejum todos aqueles, que por causa da idade, de
trabalhos pesados e de doença, não se acham em condições de cumpri-la. Mas
aqueles outros que muito bem podiam jejuar, não deviam fazer uma interpretação
mais larga da lei utilíssima e não procurar toda a sorte de desculpas para dela
se eximir. Nos tempos em que os homens eram mais santos, mais puros e crentes,
havia mais consciência também neste ponto, e a lei do jejum era observada com
todo o rigor, sem murmuração alguma. Em nosso século, porém, que tem o estigma
de material, sensual, tíbio e moderno; neste século, onde a sensualidade e a
sede dos prazeres enchem a atmosfera, há reclamações, protestos e
objeções de toda sorte contra a abstinência e o jejum. Que será de nós, se em
vez de crucificar a nossa carne, cada vez mais a lisonjeamos? Grandes servos de
Deus, na incerteza de salvar a alma, recorriam à penitência – e nós, infelizes
escravos da concupiscência, vítimas das nossas paixões, pretendemos poder andar
sossegadamente no largo caminho da perdição, procurando alarga-lo ainda mais?
Como falou Cristo? “Estreita é a porta e apertado o caminho, que guia para a
vida eterna”. (Mt. 7, 24).
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