Também nesta data - Santa Jacinta, Santa Savina e São Barsimeu
Esta célebre Santa, uma das padroeiras de Roma, era de família distinta. O pai, três vezes eleito cônsul, era possuidor das mais belas virtudes e afortunado.
Martinha
recebeu uma educação esmerada, baseada nos princípios do Cristianismo, mas teve
a infelicidade de perder bem cedo os pais. Inflamada de amor a Jesus Cristo, deu
todos os bens aos pobres, fez voto de castidade e em atenção à sua vida santa e
exemplar, foi recebida entre as diaconistas, honra com que pessoas de muita
probidade eram distinguidas.
Tinha o
imperador Alexandre Severo (222-235) concebido o plano de exterminar os
Galileus (assim alcunhava aos cristãos). Conhecendo a formosura,
nobreza e bondade de Martinha, tudo fez para afastá-la da religião cristã e
chegou até a oferecer a dignidade de Imperatriz, caso se decidisse sacrificar a
Apolo. Martinha respondeu: “O meu sacrifício pertence a Deus imaculado; a Ele
sacrificarei, para que confunda e aniquile a Apolo e, este deixe de perder
almas”. Alexandre Severo, interpretando esta resposta em seu
favor, organizou uma grande festa no templo de Apolo, para onde levou Martinha,
na presença dos sacerdotes e de muito povo. Os olhos de todos estavam dirigidos
para a jovem que, no meio do grande silêncio que reinava, fez o
sinal da cruz, elevou olhos e braços ao céu e disse em alta voz: “Ó Deus e meu
Senhor ! Ouvi esta minha súplica e fazei com que se despedace este
ídolo cego e mudo, para que todos, imperador e povo, conheçam, que só Vós sois o
único Deus verdadeiro e que não é licito adorar senão a Vós !” No
mesmo instante a cidade inteira foi sacudida por um forte terremoto, a imagem de
Apolo caiu do seu lugar; parte do templo ruiu por terra, sepultando nos
escombros os sacerdotes e muita gente.
O
imperador ordenou que Martinha fosse esbofeteada, flagelada e tivesse as carnes
dilaceradas com torqueses. Os algozes porém não puderam cumprir a ordem, porque
um Anjo de Deus defendia a donzela e esta, no meio dos maus tratos , entoava
cânticos de louvor a Jesus Cristo e convidava os algozes a se
converterem à religião de Jesus. Deus abençoou-lhes as palavras: oito algozes
caíram de joelhos, pediram perdão à Mártir e confessaram alto a fé em Jesus
Cristo. O imperador, ainda mais enraivecido com este incidente, mandou levá-los
todos ao cárcere, torturar barbaramente os oito algozes, os quais, por uma graça
especial divina, ficando fiéis a fé, receberam a palma do martírio, pela
decapitação. No dia seguinte a “feiticeira” foi citada ao palácio do Imperador,
que a recebeu com estas palavras:
“Basta
de embustes. Dize-me, para que eu saiba com quem estou tratando: Sacrificas aos
deuses ou preferes aderir ao feiticeiro, ao Cristo?” Com santa
indignação respondeu Martinha: “Não admito que insultes a meu Deus!
Se queres aplicar-me novas torturas, aqui estou; não as
temo; pois sei que Deus me dá força”. A resposta do imperador foi a condenação
da Mártir a suplícios crudelíssimos e desumanos. Martinha, no meio das dores,
glorificou a Deus e as feridas exalavam-lhe um suave perfume. Grande foi o
espanto de Alexandre Severo ao ouvir, no dia seguinte, a notícia de que Martinha
que se achava no cárcere, estava perfeitamente curada das feridas
e não só isto: Os guardas viram, durante a noite, o cárcere iluminado por
uma luz maravilhosa e ouviram, extasiados, cânticos celestiais.
O furor
do imperador chegou ao extremo. Não mais senhor de sua paixão, condenou Martinha
às feras no anfiteatro, e fez timbre de achar-se entre os espectadores.
Novo
milagre. Martinha, de uma beleza sobrenatural encantadora, ajoelhada na “arena”,
calma se achava à espera do leão . Este, o indômito rei do Saara, possante e
belo em sua força, se anuncia com rugido aterrador e em dois saltos se acha ao
lado da vítima. Como que, domado por uma força invisível, arroja-se aos pés de
Martinha, manso como um cordeiro. De repente se levanta, e num salto medonho
ganha a barreira, entrando no recinto dos espectadores, matando alguns deles. O
pânico foi indescritível. O imperador, longe de convencer da intervenção divina
na defesa da mártir, atribui o fato extraordinário às forças mágicas de
Martinha, as quais, segundo sua opinião, teriam sua sede na rica cabeleira da
Santa. Deu ordem para a rica cabeleira ser-lhe cortada imediatamente e a
donzela, assim profanada, ser fechada no templo de Júpiter. Nos dois dias
seguintes Alexandre Severo, acompanhado de sacerdotes e muito povo, se dirigiu
ao templo. Não entrou, porém, porque teve a impressão de ouvir vozes masculinas
e julgou que fossem os deuses, que se tivessem reunido para converter Martinha.
Aberto o templo no terceiro dia, ao imperador apresentou-se um espetáculo
estranho: Achavam-se derrubados ao chão todas as imagens dos deuses. À sua
pergunta onde estava a estátua de Júpiter, Martinha respondeu sorrindo: “Tendo
ele que dar satisfação a Cristo, porque não salvou estes doze ídolos?
Meu Deus entregou-o aos demônios, que dele fizeram o que vedes”.
Fulo de
raiva por este escárnio, Severo ordenou que se despejasse banha
fervente sobre o corpo de Martinha e a entregassem às chamas. Veio, porém, uma
grande chuva apagar a fogueira. Restava então só a morte pela espada. Martinha
aceitou a sentença, com toda submissão e gratidão para com Deus. Espontaneamente
ofereceu a cabeça ao algoz, que a fez entrar nas eternas núpcias
do Senhor Jesus.
Os
cristãos apoderaram-se clandestinamente do corpo da Santa e sepultaram-no com
todas as honras. As relíquias de Santa Martinha foram encontradas em 1634 e
acham-se hoje na Igreja do mesmo nome, a qual se ergue perto do arco do triunfo
de Severo.
Reflexões:
Que vida
encantadora, a de Santa Martinha ! Eis uma cristã de verdade, uma discípula de
Jesus, dedicadíssima, uma filha da Igreja, exemplaríssima. Que firmeza de
princípios, que constância na prática da religião, que intrepidez na defesa da
fé! Mulher forte, que confundiu os próprios juízes. Na luta
gigantesca que sustentou contra os princípios e as supertições do século, sem
transigir em coisa alguma, seu martírio foi um verdadeiro triunfo. Pode ser que
Deus de ti não exija nunca o sacrifício de confessar e defender a fé em
circunstâncias tão graves e difíceis como exigiu de Santa Martinha. É provável
que não se dê ocasião de, como Santa Martinha, teres de escolher entre a morte
ou a apostasia. O que Deus, porém, de ti exige, é uma vida de acordo com os
ensinamentos da religião. Não precisas defender a fé perante juízes pagãos, mas
deves à família, à sociedade o exemplo de católico praticante. Não é preciso que
faças milagres, mas ninguém te dispense da prática das virtudes da humanidade, a
caridade da mansidão e paciência, também nas coisas adversas. É preciso que tua
fé esteja viva. Uma fé morta, sem as obras, nada vale. Sendo viva a tua fé,
outra será a tua vida, outra será a tua oração, outra será tua conduta na
família e na sociedade. Sendo viva tua fé, serás um cristão verdadeiro, um
“alter Christus”, um outro Cristo.
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